FERRARI EM VILA DO CONDE (1951-2003)
Texto: José Mota Freitas *
O Circuito de Vila do Conde foi presença anual nos calendários
nacionais de provas de velocidade entre 1951 e 2003, mas o número de automóveis
da marca Ferrari que aí correram nesse período é surpreendentemente baixo,
sendo de registar apenas 8 vitórias da marca italiana na história de Vila do
Conde.
O primeiro triunfo da marca fundada por Enzo Ferrari registou-se
logo na 2ª edição do Circuito, em 1951, quando Casimiro de Oliveira levou o
Ferrari 166 MM (#0040MM) à primeira
posição, após luta com o Allard de José Arroyo Nogueira Pinto. O seu carro (ex.
Luigi Villoresi), havia sido estreado em competições nacionais no ano anterior
em Vila Real por Vasco Sameiro e era pertença do desportista e industrial de
Riba D`Ave, Miguel Ferreira.
D. Fernando Mascarenhas tinha um automóvel idêntico
(#0200ED), mas de cor preta e equipado com pneus Pirelli em vez de Mabor, pois
segundo ele, preferia pagar os pneus, já que a sua vida valia mais do que o dinheiro que pouparia com o seu uso…
José
Soares Cabral alinhava curiosamente com o carro vencedor em 1951, o Ferrari 166
MM Touring Barchetta (#0040MM), com o qual obteve um bom 4º lugar no IV Circuito
(Setembro).
O Ferrari 340 América de Nogueira Pinto (#0082A),
era o automóvel que havia corrido no ano anterior em Vila Real nas mãos de
Casimiro de Oliveira, e era o carro de maior cilindrada e maior potência
inscrito (4,1 litros
e 220 cv), embora fosse também o mais pesado.
Outro Ferrari já bastante conhecido era o 166 MM de Guilherme
Guimarães (#0056M), como habitualmente correndo com pseudónimo, que desta vez não
era Searamiug, mas sim Guilherme F.
Oliveira...
Na prova disputada em 31 de Agosto, o III Circuito de Vila do
Conde, o vencedor foi Casimiro de Oliveira (#0180ET), e no IV a vitória sorriu a Vasco Sameiro (0198ET). Ambos os
pilotos nortenhos tripulavam os Ferraris da
equipa C.S.C., cujas iniciais significavam: Covilhã, Sameiro e Casimiro.
Depois de fazerem as provas nacionais do ano de 52
(Boavista, Vila Real e Vila do Conde) os carros foram vendidos a Jorge de
Seixas (o #0180ET) e ao Brasileiro Mário Valentim (o # 0198ET).
Depois de 3 anos de interregno, em 11 de Setembro de 1955,
disputou-se um Circuito em Vila do Conde, com um programa de 4 corridas, tendo
os concorrentes sido divididos em classes, consoante a sua cilindrada. Na
Classe IV apenas se inscreveram 4 concorrentes e … todos em Ferrari!
António Borges Barreto (#0326 MM) teve problemas nos treinos de Sábado e já não alinhou na
prova, que teria como vencedor José Arroyo Nogueira Pinto ao volante de um dos
elegantes Ferrari 750 Monza (0572 M). Na 2ª
posição ficou o outro Ferrari 750 Monza (0560 MD), de D. Fernando de Mascarenhas e no 3º (e último…) posto quedou-se
Leonel Castelo-Branco Castro, que tripulou o 250MM (#0332MM) ex. Nogueira Pinto
(vencedor do III GP Portugal de 1953 - na Boavista). Registe-se que este
“Circuito de Vila do Conde”, apesar de se ter realizado e contado para o Campeonato Nacional de Condutores, não costuma entrar na contagem
de “edições oficiais” da história da prova vilacondense…
Depois destas 4 vitórias nas 5 primeiras edições de Vila do Conde
(1951-55), a presença de automóveis da marca Ferrari no automobilismo nacional
foi decrescendo nas provas automobilísticas portuguesas, não só em número e
também na qualidade apresentada, nomeadamente a partir do meio da década de 50.
No entanto, a partir de 1959 são importadas algumas Berlinettas Scaglietti do modelo 250 GT SWB e é com um exemplar (chassis # 1613GT,
uma versão competição com carroceria em alumínio) deste modelo que Joaquim
Correia de Oliveira ganha, em Agosto de 1961, a “Taça Organização” do VII
Circuito de VC, depois de uma grande luta com o carro idêntico (# 2035GT) de
Horácio Macedo (ex. Jorge Moura Pinheiro). Esse carro seguiria posteriormente
para Angola, onde, pintado de branco e com as cores do A.T.C.A., teria várias
jornadas de glória com a pilotagem de nomes “lendários” como Álvaro Lopes,
Maximino Correia ou Flávio Santos.
Nas épocas de 1965 e 66, Aquiles de Brito utilizou um Ferrari 275
GTB (# 07271 GT) e conseguiu vencer a “Taça Câmara Municipal de Vila do Conde” no
ano de 65 para automóveis de Grande Turismo, após luta com o Lotus Elan de
Carlos Gaspar, antes vencedor na prova de Cascais.
No ano seguinte iríamos assistir à última presença, durante mais
de 30 anos, de um Ferrari em Vila do Conde, o de António Peixinho.
No dia em que se registou a maior intempérie de que há memória em
corridas de Vila do Conde (27 de Agosto de 1966 - um
forte nevoeiro e uma chuva intensa), o piloto de Aveiro
levou o seu 250 LM (# 6119GT), cedido pelo piloto suíço Pierre de Siebenthal, à
vitória na prova de Grande Turismo e Desporto. Achilles de Brito, no 275 GTB, retirou-se
à 6ª volta devido à “falta de visibilidade”.
Este carro haveria de voltar a
Vila do Conde no dia 22 de Maio de 2010, para participar no “Circuito de Vila
do Conde Revival”, organizado pelo ClubRacing. Mas agora pintado de azul e sob
pilotagem de José Albuquerque.
Mas durante as décadas de 70, 80 e 90, e para lamento dos muitos fans da marca italiana, nunca teríamos o
prazer de ver um Ferrari a correr em Vila do Conde!
Em 1999 finalmente pudemos ver um carro com o emblema do cavallino rampante na pista do Rio Ave, com
a tumultuosa (até obrigou à montagem de uma chicane na recta da meta…), mas
entusiasmante visita dos espanhóis do Campeonato de GT. Entre os 19
participantes, havia 2 Ferrari F355.
A dupla constituída por Javier Arias e Chano Arias conseguiu
resultados a meio da tabela, mas na 2ª manga assistimos a algo inédito para uma
geração: um Ferrari cruzou a linha da meta em 2ª posição! Mas, na última volta
e na ânsia de ultrapassar o Porsche 911 GT2 do português Gonçalo Gomes (que
estava com problemas mecânicos), Javier Diaz Mata bateu forte na traseira do
Porsche, tendo sido penalizado com uma volta, e assim ficando a dupla Diaz Mata
/José Maria Fontán classificada apenas no 3º posto. O triunfo na jornada coube
ao Chrysler Viper GTS-R da dupla luso-espanhola constituída por Ni Amorim e Luís
Perez Sala.
Até que em 2001 um Ferrari ganha mesmo! Miguel Paes do Amaral
vence entre os Clássicos de 1971 com o seu GTB4 Daytona (#13971,
conversão em “competizione”), reaparecendo em 2003
com o mesmo carro, para obter a 2ª posição no Circuito Centenário do ACP, o
último disputado na pista de Vila do Conde. O vencedor dessa disputada prova
(Históricos 65 e 71) foi Adriano Barbosa no Lotus Elan.
FERRARI EM VILA DO CONDE
ANO PROVA PILOTO CARRO CLASS. CHASSIS
1951 I CIRCUITO CASIMIRO DE
OLIVEIRA FERRARI 166 MM TOURING
BARCHETTA 1º 0040MM
1952 III CIRCUITO CASIMIRO DE OLIVEIRA FERRARI 225 SPIDER VIGNALE 1º 0180 ET
D.
FERN. MASCARENHAS FERRARI 225
SPIDER VIGNALE 2º 0200 ET
GUILHERME
GUIMARÃES FERRARI 166 MM TOURING
BARCHETTA 3º 0056 MM
VASCO
SAMEIRO FERRARI 225
SPIDER VIGNALE DNF 0198 ET
JOSÉ
A. NOGUEIRA PINTO FERRARI 340
AMERICA VIGNALE DNF 0082 A
1952 IV CIRCUITO VASCO SAMEIRO FERRARI 225 SPIDER VIGNALE 1º 0198 ET
D.
FERN. MASCARENHAS FERRARI 225
SPIDER VIGNALE 2º 0200 ET
JOSÉ
A. NOGUEIRA PINTO FERRARI 340
AMERICA VIGNALE 3º 0082 A
JOSÉ
SOARES CABRAL FERRARI
166 MM TOURING BARCHETTA 4º 0040MM
CASIMIRO
DE OLIVEIRA FERRARI 225 SPIDER
VIGNALE DNF 0180 ET
GUILHERME
GUIMARÃES FERRARI 166 MM TOURING
BARCHETTA DNF 0056 MM
1955 C.N.
CONDUTORES JOSÉ A. NOGUEIRA PINTO FERRARI 750 MONZA 1º 0572 M
D.
FERN. MASCARENHAS FERRARI 750
MONZA 2º 0560 MD
LEONEL
C. B. CASTRO FERRARI
250 MM SPIDER VIGNALE 3º 0332MM
BORGES
BARRETO FERRARI 250 MM
SPIDER VIGNALE DNS 0326 MM
1961 VII CIRCUITO J. CORREIA DE OLIVEIRA FERRARI 250 GT SWB 1º 1613 GT
HORÁCIO
DE MACEDO FERRARI 250 GT SWB DNF 2035 GT
1965 X CIRCUITO ACHILLES DE BRITO FERRARI 275 GTB 1º 07271 GT
1966 XI CIRCUITO ANTÓNIO PEIXINHO FERRARI 250 LM 1º 6119
GT
ACHILLES
DE BRITO FERRARI 275 GTB DNF 07271 GT
1999 V. CONDE 2
(1) J. ARIAS/ CHANO ARIAS FERRARI F355 8º
J. DIAZ MATA/ J.M. FONTAN FERRARI F355 6º
1999 V. CONDE 2
(2) J. ARIAS/ CHANO ARIAS FERRARI F355 7º
J. DIAZ MATA/ J.M. FONTAN FERRARI F355 3º
2001 V.CONDE 1 MIGUEL PAIS DO AMARAL FERRARI 365 GTB/4 1º 13971
2003 V.CONDE 2 MIGUEL PAIS DO AMARAL FERRARI 365 GTB/4 2º 13971
(* colaboração de Manuel Taboada – http://ferrariemportugal.blogspot.com)
(Fotos: colecção João Carlos Ferreira de Moura e arquivo ACP)