24 de fevereiro de 2010

ANÚNCIOS CLASSIFICADOS

Estou a pensar em fazer algumas provas na próxima época. Nem sei ainda se vou correr em automóveis ou motos, se vou para os turismos ou me decido pelos monolugares. Enfim, o ideal para definir o que fazer será pegar num jornal e consultar os Anúncios Classificados…

Para muitos, a passagem pelas motos é uma boa maneira de iniciar uma carreira de piloto de automóveis. Que o digam Jonnhy Cecotto, John Surtees ou Mike Hailwood que deram cartas em ambas as modalidades. Em Portugal também andaram e se iniciaram pelas motos nomes como Manuel Santos, Francisco Sande e Castro, Hermano Sobral, Thomaz Mello Breyner, Jorge Petiz, Carlos Santos, Jorge Leite e muitos outros. No jornal que estou a consultar aparecem alguns bons exemplares de motorizadas de 50 e 80 cc. Não seria má ideia comprar uma Derbi Replica ou uma Kreidler Van Veen. Uma das Derbi é inclusive uma competição-cliente que Juan Pares March trouxe em 1973 ao Autódromo do Estoril. As Kreidler também devem ser muito boas pois são ambas de preparação Van Veen, isto é réplicas das que os holandeses Henk Van Kessel e Jan de Vries levaram a vários títulos mundiais.




Mas, se calhar, o ideal é esquecer as motos que são perigosas para pilotos inexperientes e pensar num monolugar, se calhar a melhor maneira de começar uma carreira que considero promissora. Uma boa hipótese e barata, é o bonito Fórmula V que aparece no anúncio. Como dizia o Jean Todt a propósito do belíssimo Sport-Protótipo Peugeot 905, um carro bonito é sempre competitivo. Mas será um dos velhos Palma ou Aurora? Ou será uma das transformações que foram surgindo: o Liege de Jorge Santos (um Aurora transformado em 1969), o Sequeira de João Vasco (um Palma-1972) ou o Galáxia de Maria do Céu (um Palma-1970)? Ou será que o Olympic ex. Nogueira Pinto, ex. António Borges, ex. José Manuel Peixoto, ex. Camilo Figueiredo e ex. Paulo Porto está de novo à venda?



Provavelmente vou é virar-me para o Merlyn MK 17 de Formula Ford que Mário Silva tem para vender. O carro tem história e é competitivo, pois foi preparado pelo Joaquim Nicodemos. Veio para Portugal em 1970 para Artur Passanha, tendo ganho Vila Real em 72. Depois passou para Mário Silva que o utilizou em provas de Fórmula Livre e algumas rampas. Lembram-se da disputa entre Silva e Santos Mendonça (1976) em que Silva fez o famoso repto a Mendonça para trocarem de carro? Era este. Mas se calhar os monolugares não me seduzem demasiado. O facto é que prefiro os carros de rodas tapadas.



O melhor talvez seja comprar um carro barato como o Fiat 127 que é bom para iniciação e competitivo na classe 1000, em Grupo 1. Então se foi preparado na Auto Grande Prémio (Arécio Cardoso) ou na Leiriauto (Cruz Monteiro) vai decerto envergonhar muitos Autobianchi Abarth. O carro está a ser vendido por Luís Pinto de Freitas. Porque será? Se calhar ele até vai deixar as competições e dedicar-se ao dirigismo federativo…



O Golf GTi com preparação Oettinger de José Luís, um carro muito competitivo entre os 1600 cc é uma boa escolha também, embora o preço (1600 contos) me pareça muito alto. Não nos podemos esquecer que esta é uma altura de crise. Se calhar seria melhor negócio ficar com o Triumph Dolomite Sprint de Jorge Tenreiro, pois custa apenas 780 contos, o que não é caro para um carro de Grupo Um e Meio, perdão Grupo Um e preparado pelo René Metge.




Outra boa opção, até porque o carro é muito bonito, é o Ford Capri III que José Gonçalves pôs à venda. Os 220 cavalos de Danny Snobeck se bem guiados podem fazer miséria entre os Commodore e Dolomite, mas 1780 contos é muito dinheiro…



Se me apetecer fazer Ralis então vou buscar o Opel Irmscher de Fernando Bernardes. É bom para Ralis e se quiser fazer velocidade também dá, embora isso hoje seja quase uma raridade e eu tenho medo de ficar mal visto entre os colegas, pois hoje em dia um piloto que faça velocidade e ralis com o mesmo carro é visto como uma Avis rara…



Porventura o melhor será comprar um Turismo Especial de Grupo 2, pois mesmo que um dia deixe as competições será sempre um bom carro para clássicos. Caramba e logo na mesma página está um anúncio de ambos os Alfa GTA da antiga equipa da Mocar! Um é o do Bacelar Moura, o outro do Fernandes Bello. O primeiro era o do Domingos e o segundo do Bernardo Sá Nogueira. Tenho a impressão que com a crise que está o João Anjos não vai vender o carro facilmente e se calhar o Bacelar ainda vai disputar um Troféu Nacional de Velocidade com ele e se calhar ganhar, mas nestes casos o ideal mesmo será fazer um bom seguro contra incêndio para o carro, não vá o diabo tecê-las…



Mas para lutar contra os Alfas da Autodelta, nada melhor que os seus arqui-rivais os Datsun do Entreposto! E aparece-nos o mesmo carro à venda por duas vezes. O 1200 Coupé que foi de Francisco Fino. Claro que o carro estando tantas vezes à venda não admira que tenha passado pelas mãos de António Onofre, Miguel Barata, Fernando Carneiro e muitos outros… mas é um carro competitivo e com história, um bom investimento de facto.




Mas eu que sempre gostei de minis, se calhar tenho é que seguir o caminho que dita o meu coração e ir para um Mini. E tenho dois bem bons para comprar: um deles é o Morris Cooper S (LG-49-46) de Francisco Romãozinho, um dos Morris que em 68 e 69 enchiam as grelhas das nossas provas, juntamente com os do Eng.º Heitor Morais, Bernardo Sá Nogueira, Paiva e Sousa. É um carro preparado na A.M. Almeida e decerto muito competitivo no Grupo 2. É bom para a Taça 1300, que tem cada vez mais pretendentes…



Um dos anúncios que me deixa mais surpreendido é o do outro Mini, o 1275 GT do Alberto Freitas. Caramba, não é que a gente toda pensava que o homem guardou o carro durante tantos anos porque lhe tinha um grande amor e o facto é que ele tentou despachá-lo em 1982! Mas pronto, ele quer vendê-lo e por isso vou falar com o Narciso, o preparador, a ver se vale o investimento, caramba sempre é o (GC-46-72), Campeão nacional de Agrupamento B1 em 1981.



Mas para o CPCC 1300 se calhar o ideal era optar por um Histórico 65 e para isso tenho o Seat 600 Abarth de Jaime Melo. Claro que o carro não é nenhum Seat, mas sim um Fiat Abarth 1000 Corsa original, agora denominado de Seat por motivos de homologação. De facto era um bom carro até para competir na Classe 1000 com o IMP do Veloso Amaral e com Datsun 1000 do Miguel Barata. Não poderia no entanto lutar contra o Abarth do Manuel Ferrão porque o carro é… o mesmo! Sim, é o Abarth que Melo trouxe de Angola e pertenceu ao grande piloto local Silveira Machado.



Outra boa máquina para provas de velocidade seria sem dúvida um BMW. Encontro logo um com preparação Schnitzer. Deve ser o que pertenceu ao Raul Esperto ou o outro igual, o do António José Oliveira. Se tem um motor com 220 cavalos, deve ser um de 8 válvulas, mas o preço de 190 contos parece-me demasiado barato para arriscar, porque como se diz, geralmente o barato sai caro…




E se eu comprasse o protótipo de Grupo 6 que está à venda na Garagem Aurora? De certeza que se trata do Aurora Porsche Spyder que o Eduardo construiu com os restos do carro que o Andrade Villar acidentou em Luanda. Robert Giannone fez boas provas com este carro entre 1975 e 77, mas um Carrera 6 cortado não é um verdadeiro Carrera 6 e eu sou um purista, por isso passo…



Outra boa surpresa neste jornal é o anúncio de venda do Porsche do Giannone! Preparação Almeras e motor 3.5 com 380 cavalos, uma transformação na versão A4, ou seja, o máximo que os irmãos Almeras faziam a este modelo do 911! Mas o Giannone também já disse que se não vender o carro vai tentar vencer em Vila Real e nos dois circuitos de Vila do Conde. Depois, como para o ano como acabam os Grupos 5, transforma-o em 911 SC para poder correr em Grupo 4 e posteriormente guarda-o uns anos, aí até 96, para chegar a altura de poder usa-lo nos clássicos. Depois coloca-o à venda numa revista inglesa e como os ingleses são conhecedores e ricos, despacha-o facilmente…



Pois deixei para o fim o carro de que realmente gosto! O Porsche Carrera 6 da Garagem Escape. O carro que Joaquim Filipe Nogueira conduziu em Vila Real 1969 e depois adquiriu a Nick Gold. Há no entanto alguns pormenores curiosos no anúncio: diz por exemplo que o carro é importado! Ora ainda bem que surge esta informação, senão podíamos pensar que havia Porsche Carrera 6 fabricados em Portugal e este seria um deles! Diz também que o carro está impecável. Ora um carro que praticamente não terminou uma prova desde que está nas mãos de Nogueira está impecável? Se calhar não vou arriscar. Espero mais um tempo e procuro noutra revista até porque podem aparecer melhores negócios.



Aliás quando telefonei para a Escape para saber pormenores, disseram-me que o Américo Nunes está interessado no carro e ele com a experiência que tem na preparação de Porsches decerto que põe aquilo a soprar bem e quem sabe ainda ganha em 1972 um título nacional na velocidade…