29 de dezembro de 2016

FERRARI EM VILA DO CONDE (1951-2003)

Texto: José Mota Freitas *



O Circuito de Vila do Conde foi presença anual nos calendários nacionais de provas de velocidade entre 1951 e 2003, mas o número de automóveis da marca Ferrari que aí correram nesse período é surpreendentemente baixo, sendo de registar apenas 8 vitórias da marca italiana na história de Vila do Conde.
O primeiro triunfo da marca fundada por Enzo Ferrari registou-se logo na 2ª edição do Circuito, em 1951, quando Casimiro de Oliveira levou o Ferrari 166 MM (#0040MM) à primeira posição, após luta com o Allard de José Arroyo Nogueira Pinto. O seu carro (ex. Luigi Villoresi), havia sido estreado em competições nacionais no ano anterior em Vila Real por Vasco Sameiro e era pertença do desportista e industrial de Riba D`Ave, Miguel Ferreira.





 Em 1952 houve 11 presenças de Ferraris em Vila do Conde, 6 das quais no IV Circuito, disputado a 27 de Setembro. A principal novidade era sem dúvida a presença dos 3 novos 225 S Spider Vignale. Os dois carros, importados sob a tutela do Conde da Covilhã, Júlio Anahory do Quental Calheiros, eram pintados de amarelo e seriam pilotados pelos dois maiores volantes nacionais da altura: Vasco Sameiro e Casimiro de Oliveira. O Conde da Covilhã era um entusiasta do automobilismo e o fundador da fábrica de pneus Mabor, tendo decidido formar esta Scuderia, em que os carros faziam propaganda à marca, já que usavam nas competições em que entravam, pneus Mabor General.
D. Fernando Mascarenhas tinha um automóvel idêntico (#0200ED), mas de cor preta e equipado com pneus Pirelli em vez de Mabor, pois segundo ele, preferia pagar os pneus, já que a sua vida valia mais do que o dinheiro que pouparia com o seu uso…
José Soares Cabral alinhava curiosamente com o carro vencedor em 1951, o Ferrari 166 MM Touring Barchetta (#0040MM), com o qual obteve um bom 4º lugar no IV Circuito (Setembro).
O Ferrari 340 América de Nogueira Pinto (#0082A), era o automóvel que havia corrido no ano anterior em Vila Real nas mãos de Casimiro de Oliveira, e era o carro de maior cilindrada e maior potência inscrito (4,1 litros e 220 cv), embora fosse também o mais pesado.
Outro Ferrari já bastante conhecido era o 166 MM de Guilherme Guimarães (#0056M), como habitualmente correndo com pseudónimo, que desta vez não era Searamiug, mas sim Guilherme F. Oliveira...
Na prova disputada em 31 de Agosto, o III Circuito de Vila do Conde, o vencedor foi Casimiro de Oliveira (#0180ET), e no IV a vitória sorriu a Vasco Sameiro (0198ET). Ambos os pilotos nortenhos tripulavam os Ferraris da equipa C.S.C., cujas iniciais significavam: Covilhã, Sameiro e Casimiro.
Depois de fazerem as provas nacionais do ano de 52 (Boavista, Vila Real e Vila do Conde) os carros foram vendidos a Jorge de Seixas (o #0180ET) e ao Brasileiro Mário Valentim (o # 0198ET).





Depois de 3 anos de interregno, em 11 de Setembro de 1955, disputou-se um Circuito em Vila do Conde, com um programa de 4 corridas, tendo os concorrentes sido divididos em classes, consoante a sua cilindrada. Na Classe IV apenas se inscreveram 4 concorrentes e … todos em Ferrari!
António Borges Barreto (#0326 MM) teve problemas nos treinos de Sábado e já não alinhou na prova, que teria como vencedor José Arroyo Nogueira Pinto ao volante de um dos elegantes Ferrari 750 Monza (0572 M). Na 2ª posição ficou o outro Ferrari 750 Monza (0560 MD), de D. Fernando de Mascarenhas e no 3º (e último…) posto quedou-se Leonel Castelo-Branco Castro, que tripulou o 250MM (#0332MM) ex. Nogueira Pinto (vencedor do III GP Portugal de 1953 - na Boavista). Registe-se que este “Circuito de Vila do Conde”, apesar de se ter realizado e contado para o Campeonato Nacional de Condutores, não costuma entrar na contagem de “edições oficiais” da história da prova vilacondense…
Depois destas 4 vitórias nas 5 primeiras edições de Vila do Conde (1951-55), a presença de automóveis da marca Ferrari no automobilismo nacional foi decrescendo nas provas automobilísticas portuguesas, não só em número e também na qualidade apresentada, nomeadamente a partir do meio da década de 50.
No entanto, a partir de 1959 são importadas algumas Berlinettas Scaglietti do modelo 250 GT SWB e é com um exemplar (chassis # 1613GT, uma versão competição com carroceria em alumínio) deste modelo que Joaquim Correia de Oliveira ganha, em Agosto de 1961, a “Taça Organização” do VII Circuito de VC, depois de uma grande luta com o carro idêntico (# 2035GT) de Horácio Macedo (ex. Jorge Moura Pinheiro). Esse carro seguiria posteriormente para Angola, onde, pintado de branco e com as cores do A.T.C.A., teria várias jornadas de glória com a pilotagem de nomes “lendários” como Álvaro Lopes, Maximino Correia ou Flávio Santos.


Nas épocas de 1965 e 66, Aquiles de Brito utilizou um Ferrari 275 GTB (# 07271 GT) e conseguiu vencer a “Taça Câmara Municipal de Vila do Conde” no ano de 65 para automóveis de Grande Turismo, após luta com o Lotus Elan de Carlos Gaspar, antes vencedor na prova de Cascais.



No ano seguinte iríamos assistir à última presença, durante mais de 30 anos, de um Ferrari em Vila do Conde, o de António Peixinho.
No dia em que se registou a maior intempérie de que há memória em corridas de Vila do Conde (27 de Agosto de 1966 - um forte nevoeiro e uma chuva intensa), o piloto de Aveiro levou o seu 250 LM (# 6119GT), cedido pelo piloto suíço Pierre de Siebenthal, à vitória na prova de Grande Turismo e Desporto. Achilles de Brito, no 275 GTB, retirou-se à 6ª volta devido à “falta de visibilidade”. 



Este carro haveria de voltar a Vila do Conde no dia 22 de Maio de 2010, para participar no “Circuito de Vila do Conde Revival”, organizado pelo ClubRacing. Mas agora pintado de azul e sob pilotagem de José Albuquerque.
Mas durante as décadas de 70, 80 e 90, e para lamento dos muitos fans da marca italiana, nunca teríamos o prazer de ver um Ferrari a correr em Vila do Conde!


Em 1999 finalmente pudemos ver um carro com o emblema do cavallino rampante na pista do Rio Ave, com a tumultuosa (até obrigou à montagem de uma chicane na recta da meta…), mas entusiasmante visita dos espanhóis do Campeonato de GT. Entre os 19 participantes, havia 2 Ferrari F355.
A dupla constituída por Javier Arias e Chano Arias conseguiu resultados a meio da tabela, mas na 2ª manga assistimos a algo inédito para uma geração: um Ferrari cruzou a linha da meta em 2ª posição! Mas, na última volta e na ânsia de ultrapassar o Porsche 911 GT2 do português Gonçalo Gomes (que estava com problemas mecânicos), Javier Diaz Mata bateu forte na traseira do Porsche, tendo sido penalizado com uma volta, e assim ficando a dupla Diaz Mata /José Maria Fontán classificada apenas no 3º posto. O triunfo na jornada coube ao Chrysler Viper GTS-R da dupla luso-espanhola constituída por Ni Amorim e Luís Perez Sala.
Até que em 2001 um Ferrari ganha mesmo! Miguel Paes do Amaral vence entre os Clássicos de 1971 com o seu GTB4 Daytona (#13971, conversão em “competizione”), reaparecendo em 2003 com o mesmo carro, para obter a 2ª posição no Circuito Centenário do ACP, o último disputado na pista de Vila do Conde. O vencedor dessa disputada prova (Históricos 65 e 71) foi Adriano Barbosa no Lotus Elan.



FERRARI EM VILA DO CONDE

ANO         PROVA                    PILOTO                                    CARRO                                                    CLASS.     CHASSIS

1951        I CIRCUITO            CASIMIRO DE OLIVEIRA            FERRARI 166 MM TOURING BARCHETTA   1º            0040MM
1952        III CIRCUITO          CASIMIRO DE OLIVEIRA            FERRARI 225 SPIDER VIGNALE                  1º            0180 ET
                                               D. FERN. MASCARENHAS          FERRARI 225 SPIDER VIGNALE                  2º            0200 ET
                                               GUILHERME GUIMARÃES          FERRARI 166 MM TOURING BARCHETTA   3º            0056 MM
                                               VASCO SAMEIRO                        FERRARI 225 SPIDER VIGNALE                  DNF         0198 ET
                                               JOSÉ A. NOGUEIRA PINTO         FERRARI 340 AMERICA VIGNALE              DNF         0082 A
1952        IV CIRCUITO          VASCO SAMEIRO                        FERRARI 225 SPIDER VIGNALE                  1º            0198 ET
                                               D. FERN. MASCARENHAS          FERRARI 225 SPIDER VIGNALE                  2º            0200 ET
                                               JOSÉ A. NOGUEIRA PINTO         FERRARI 340 AMERICA VIGNALE                3º            0082 A
                                               JOSÉ SOARES CABRAL               FERRARI 166 MM TOURING BARCHETTA   4º            0040MM
                                               CASIMIRO DE OLIVEIRA            FERRARI 225 SPIDER VIGNALE                  DNF         0180 ET
                                               GUILHERME GUIMARÃES          FERRARI 166 MM TOURING BARCHETTA   DNF         0056 MM
1955        C.N. CONDUTORES   JOSÉ A. NOGUEIRA PINTO       FERRARI 750 MONZA                                  1º            0572 M
                                               D. FERN. MASCARENHAS          FERRARI 750 MONZA                                    2º            0560 MD
                                               LEONEL C. B. CASTRO                FERRARI 250 MM SPIDER VIGNALE           3º            0332MM
                                               BORGES BARRETO                    FERRARI 250 MM SPIDER VIGNALE           DNS         0326 MM
1961        VII CIRCUITO         J. CORREIA DE OLIVEIRA          FERRARI 250 GT SWB                                  1º            1613 GT
                                               HORÁCIO DE MACEDO              FERRARI 250 GT SWB                                DNF         2035 GT
1965        X CIRCUITO           ACHILLES DE BRITO                  FERRARI 275 GTB                                     1º            07271 GT
1966        XI CIRCUITO           ANTÓNIO PEIXINHO                 FERRARI 250 LM                                      1º            6119 GT
                                               ACHILLES DE BRITO                  FERRARI 275 GTB                                    DNF         07271 GT
1999        V. CONDE 2 (1)        J. ARIAS/ CHANO ARIAS            FERRARI F355                                          8º
J. DIAZ MATA/ J.M. FONTAN     FERRARI F355                                          6º
1999        V. CONDE 2 (2)        J. ARIAS/ CHANO ARIAS            FERRARI F355                                          7º
J. DIAZ MATA/ J.M. FONTAN     FERRARI F355                                          3º
2001        V.CONDE 1               MIGUEL PAIS DO AMARAL        FERRARI 365 GTB/4                                 1º            13971
2003        V.CONDE 2               MIGUEL PAIS DO AMARAL        FERRARI 365 GTB/4                                 2º            13971

(* colaboração de Manuel Taboada – http://ferrariemportugal.blogspot.com)

(Fotos: colecção João Carlos Ferreira de Moura e arquivo ACP)

27 de dezembro de 2016

CIRCUITO DE BRAGA  - ABRIL DE 2016

Após 11 meses de paragem, regressei às competições dos “Clássicos 1300” no passado fim-de-semana na pista de Braga. Estava com algum receio, pois o carro tinha apresentado alguns problemas na última prova realizada, o Circuito de Vila Real do ano passado e não foi possível testá-lo devidamente, mas o moral era, apesar de tudo, elevado.


O facto é que o fim-de-semana de corridas em Braga foi bastante positivo, o carro portou-se lindamente, apesar das suas actuais limitações mecânicas e da falta de pneus adequados, as classificações foram bastante boas e sobretudo o ambiente no paddock esteve fantástico, tendo sido brindado com a visita de muitos amigos. Gostei!
Nos treinos andei com algum cuidado para poupar material e consegui a 8ª posição, o que não era nada mau e me permitia sair a meio do pelotão e ao lado do meu amigo Fernando Charais.
A corrida de sábado decorreu em piso molhado e de luzes acesas, mas apesar de se dos poucos que alinhavavam com slicks consegui o 7º lugar da geral, numa prova em que fui o melhor “não Datsun” e também o primeiro entre os carros construídos nos anos 60.







Domingo o arranquei bem e na primeira volta ia na 5ª posição, mas senti um ligeiro “engasgar” no motor (seriam as velas?) e abrandei no final da recta da meta tendo sido passado por todos os meus adversários. Mas, acelerando de novo, vi que o carro estava aparentemente OK e forcei o andamento, embora sem passar um limite de rotações que me impus, e fui ultrapassando ainda alguns dos adversários, terminando no 6º posto absoluto (o meu melhor resultado de sempre em Braga!), sendo o 3º entre os concorrentes da minha categoria H75, por isso comm direito a uma ida ao pódio e um troféu. E recebi também uma garrafa de champanhe que, como sempre acontece nestes casos, ofereci ao meu preparador, Sr. Cepeda, um amigo de 72 anos que continua a ser um mestre na arte de preparar Minis.






Os meus agradecimentos a todos os que apoiam este projecto, totalmente amador, ao preparador do carro, o Sr. Cepeda e também a Luís Queirós, Joca Craveiro, Rui Queirós (Ruic`s Design), António Miranda (About publicidade), Renato Costa (RAC photosport), Delfim Moreira, que tentou ajudar-me (até em Espanha!) a arranjar os necessários pneus, ao meu companheiro de equipa e boxe Luís Losada, ao Luís Império pelo simpático convite para a prova de champanhe Cattier e aos irmãos Barbosa da GS Collection pela sempre simpática recepção com que brindam os amigos que os visitam na sua tenda.
Obrigado também aos amigos do Clube Minho Clássico e da MediaRota Seguros da pela simpática visita. São novos no apoio à equipa e nota-se que gostam de automobilismo, são parceiros assim que eu gosto de ter e me dão vontade de continuar!







Um abraço para todos

JMF

26 de dezembro de 2016

FIAT 125S TORRALTA - 1972

Texto: José Mota Freitas  

Depois de ter apoiado em 1971 uma equipa constituída por 3 Fiat 128 preparados por Ceccato, a Fiat apostou forte no nacional de ralis de 1972 apresentando uma equipa de 5 carros.
A aposta nos Fiat 128 não se revelou muito feliz e os carros acusaram problemas nas provas de terra, sobretudo devido à fragilidade da suspensão dianteira, assim como o motor que com uma árvore de cames demasiado “pontiaguda” fazia 90 cv mas só pegava às 4000 rpm, dificultando por isso a sua utilização nos nossos ralis. E pior ainda o acabamento superficial dos cames era deficiente (não tinham o tratamento térmico adequado) e o carro “comia” uma árvore de cames por rallye com a consequente desafinação de válvulas e motor!  Aliás os carros alinharam em várias das últimas provas do ano com árvore de cames normal (para 75 cv), pois não havia mais das outras…


Nos anos de 1970 e 71 o modelo 125 S da Fiat havia sido um dos grandes dominadores das provas internacionais em Grupo 1, sendo memoráveis algumas provas de pilotos como Renato Sonda, Hakan Lindberg, Alberto Smania ou Pino Ceccato. Por exemplo, Sonda foi o 5º classificado “à geral” no TAP de 1971 vencendo o seu grupo.


Talvez por isso, para 1972 a Fiat resolveu apostar mais directamente nas competições e criou uma equipa própria que contou com o patrocínio da Torralta. Em 1970 Mário Figueiredo (a meias com Carlos Moura Pinheiro, que trabalhava no concessionário de Coimbra, Castro & Castanheira) tinha adquirido o carro do italiano Renato Sonda e com ele teve uma boa participação na Volta a Portugal só interrompida devido a um cárter partido. Depois da aposta em 1971 no modelo 128 (mais vendável em Portugal na altura, certamente), a Fiat (que era a marca nº 1 do mercado português na altura, note-se) resolveu em 1972 reabilitar este carro e apresentar uma equipa de 5 Fiats do modelo 125 S.
O 125 “S” era uma evolução do 125 e vendeu-se entre 1970 e 1972. Tinha de origem uma potência de cerca de 100 cavalos e apresentava como principais diferenças em relação ao modelo “normal” uma caixa de 5 velocidades e uma nova árvore de cames e colectores.
O antigo carro de Sonda, que era branco, foi pintado de verde assim como todos os outros quatro 125 S que eram novos e foram preparados em Itália nas oficinas da Ceccato di Schio e foram depois assistidos na FIAT portuguesa em Alfragide, excepto o do Mário de Figueiredo que de início o foi em Coimbra. Como curiosidade a rodagem deste carro (que chegou quase “em cima” da primeira prova) foi feita pelo próprio Sr. Castro, um dos sócios da Castro & Castanheira, os concessionários FIAT em Coimbra, que, ao que se diz, nesse dia saiu de Coimbra após o jantar foi até ao Algarve e voltou nessa noite (tinha, na altura, cerca de 70 anos e nessa altura não havia auto-estradas …).
Quem dirigia a parte técnica da FIAT em Lisboa era o Eng.º Luís Alberty, que embora tendo estudado em Coimbra onde grande parte da família ainda vive, morava em Lisboa.
A equipa de pilotos era de grande qualidade. Entre os 5 escolhidos, podíamos encontrar a organização do Eng.º Heitor de Morais (campeão em 1968 e que era também o director técnico do team) a experiência de Luís Netto (campeão em 1969) a regularidade de José Carpinteiro Albino (campeão em 1970) a rapidez de Mário de Figueiredo (vice-campeão em 1970) e a promessa de Manuela Souto (campeã da promoção em 1971).


As matrículas dos carros e as duplas que neles alinhavam inicialmente, ficaram então as seguintes:
            # E 29532 TO    Luís Netto – “Jocames” (João Canas Mendes)
# GA – 54 – 50  Mário Figueiredo – Carlos Barata
# GA – 54 – 56  Heitor de Morais – Augusto Roxo
            # GA – 54 – 57 Manuela Souto – Josefina Sotto Mayor
            # GA – 54 – 58  José Carpinteiro Albino – Assis e Santos


A concorrência no Grupo 1 (Turismo de Série) era grande já que Manuel Gomes Pereira conduzia um Opel 1604 S com apoio da GM portuguesa e o novo “Team Kendall” representava agora o Entreposto Comercial, com dois Datsun 1600 SSS previstos para Celso Vieira da Silva e António Silva Pereira.
Além disso havia que contar com outros outsiders, como Citroen DS 21 do Conde de Botelho, o Opel 1604 S de “Vidigueira”, os Datsun 1600 SSS de David Cabral e Jaime Benitez, o Vauxhall Firenza de Rogério Beatriz e especialmente do Citroen DS 21 de Francisco Romãozinho de quem se esperavam, como habitualmente, apenas participações esporádicas nas principais provas do calendário.
Os dados estavam pois lançados e a partir de Fevereiro tudo passaria da teoria à prática, com a disputa do primeiro Rali do campeonato.

V RALI TARGA – FEVEREIRO DE 1972


A época começou como habitualmente com a disputa do Rali do Targa Clube e a equipa Fiat foi uma das que melhor se conseguiu adaptar às más condições da Serra da Cabreira com lamaçais, buracos, chuva e até neve. Mário Figueiredo-Carlos Barata foram assim excelentes 2ºs classificados da geral atrás do inesperado Mini 1275 GT dos jovens ex. iniciados Rui-Gonçalves - João Baptista que curiosamente disputavam a sua primeira prova do campeonato nacional. Nos restantes Torralta-Fiat, Carpinteiro Albino foi 3º (2º do grupo) e Luís Netto o 6º. Manuela Souto abandonou na “lama” da Cabreira e Heitor de Morais teve problemas na correia da ventoinha.

XXIII VOLTA A PORTUGAL – MARÇO DE 1972


Antes a prova mais importante do calendário, a Volta a Portugal era agora suplantada pelo Rali TAP nesse título, mas continuava a ser uma das provas grandes do calendário. Por isso a participação do Citroen “oficial” de Francisco Romãozinho que não deu hipóteses à concorrência e foi o vencedor do grupo e à geral, à frente do Porsche 911 S de António Borges.
O melhor entre os Fiat foi Mário Figueiredo (4º), tendo Luís Netto (desta vez fazendo equipa com “Borsano”) sido o 6º (3º do grupo) e Carpinteiro Albino o 8º (5º do grupo).
Os Fiat vão-se impondo pela sua rapidez, especialmente a de Mário Figueiredo, que vai superando muitos concorrentes do Grupos 2 e até do Grupo 4, e sobretudo pela robustez mecânica que apresentam.

XVII RALI DAS CAMÉLIAS – MARÇO DE 1972


Como era habitual a caravana do nacional ia depois a Sintra para disputar a prova do Arte e Sport. Desta vez a vitória coube ao Datsun 240 Z do Team Kendall (um ex. carro de fábrica) que suplantou o Porsche 911 S de António Borges e o outro Datsun 240 Z, o do campeão em título Giovanni Salvi.
Entre os concorrentes do Grupo1, Luís Netto foi desta vez o melhor (4º da geral), sendo secundado por Carpinteiro Albino (6º), sendo Heitor de Morais o 5º do grupo e 10º da geral. Mário Figueiredo desta vez não completou a prova já que teve que abandonar em Sintra com excesso de penalização. Por sua vez Manuela Souto, que desta vez fazia equipa com Delfina Gomes, terminou na 34ª e última posição.

VIII RALI ÀS ANTAS – ABRIL DE 1972


O Futebol Clube do Porto realizou novamente o seu Rali às Antas com a direcção de António Miranda.
Mais uma vez o vencedor foi António Carlos Oliveira (com o navegador “Barata”), tendo Luís Netto (desta vez acompanhado de Pitta Domingues) sido novamente o melhor entre os Fiat na 4ª posição, melhor entre os concorrentes do grupo 1. E desta vez os homens da Torralta fizeram um excelente resultado de grupo já que Carpinteiro Albino foi 5º (2º do grupo), Mário Figueiredo o 6º (3º) e Heitor Morais o 9º (5º). Em 4ª posição no grupo 1 classificou-se a dupla do Datsun 1600 SSS David Cabral - Diniz Mota. Manuela Souto não alinhou, alegadamente por não ter o carro em condições.
Segundo rezam as crónicas, Luís Netto fez uma boa opção no uso de pneus de alcatrão para a prova inicial na pista das Antas, já que o bom tempo obtido lhe permitiu sair para a estrada num lugar cimeiro ao contrário dos seus colegas de equipa que iam sendo tapados por adversários mais lentos…

XIII RALI RAINHA SANTA – ABRIL DE 1972


A prova do Clube Automóvel do Centro era habitualmente uma das mais bem organizadas do calendário nacional e desta vez reuniu 43 inscritos. Os vencedores à geral foram a dupla António Borges - Pedro Garcia, tendo o melhor Fiat 125 S (Mário Figueiredo - Carlos Barata) obtido o 3º posto e a vitória no grupo. Carpinteiro Albino - Assis e Santos, sempre regulares, foram 6ºs (3ºs do grupo).
Heitor de Morais - Augusto Roxo abandonaram por despiste na 2ª PEC, Luis Netto-Pitta Domingues desistiram devido ao diferencial partido (7ª PEC) e Manuela Souto (agora com Teresa Magalhães) partiu a caixa de velocidades na 9ª PEC.
Curiosamente para esta prova houve troca de carros entre Manuela Souto e Luís Netto, passando este a conduzir o # GA – 54 – 57 e ficando a partir desta prova o já cansado # E 29532 TO (ex. Sonda) para a pouco afortunada dupla feminina.
No final desta prova era grande o equilíbrio na disputa do campeonato, com Carpinteiro Albino totalizando 586 pontos, Mário Figueiredo 561 e Luís Netto 521. O 4º classificado era “Vidigueira” (Opel) que apenas tinha 321 pontos.

XVII VOLTA AO MINHO – MAIO DE 1972


Organizada pelo Sport Clube do Porto a prova era este ano dirigida por Carmo Santos.
Manuela Souto não alinhou já que o carro não estava ainda recuperado após o anterior Rali e desta vez foi um surpreendente Heitor de Morais o melhor representante da marca italiana, ao ser 3º da geral e 2º do grupo atrás do Citroen “boca-de-sapo” do Conde de Botelho e Manuel Coentro. Nos lugares seguintes de Grupo 1 ficaram Carpinteiro Albino, Mário Figueiredo e Luís Netto. O vencedor da prova foi António Borges, como sempre acompanhado por Pedro Garcia.
Refira-se, já que ainda não foi dito, que os pneus utilizados pela equipa Fiat eram os Pirelli Cinturato “ponto vermelho”, aparentemente melhores do que os “ponto branco” que também estavam disponíveis…

XXI RALI DA MONTANHA – MAIO DE 1972


A prova do Estrela e Vigorosa disputou-se nos dias 20 e 21 de Maio e como sempre foi caracterizada pela sua dureza, desta vez associada ao nevoeiro que se fez sentir e também ao muito trânsito (!) de que alguns dos concorrentes se queixaram.
A vitória foi novamente para o 240 Z de António Carlos Oliveira que assim mantinha a luta pelo título principal com António Borges, desta vez o 2º classificado à frente da “bomba verde” de Américo Nunes.
O melhor entre os Fiat foi novamente o ex. piloto do Austin Cooper S “AL-38-28”, Luís Netto (fazendo agora equipa com “Scorpius”), que foi o 4º classificado e vencedor no seu grupo. Desta vez o 2º no Grupo 1 foi Conde de Botelho (com Manuel Coentro), tendo Mário Figueiredo sido o 3º (6º da geral) e Carpinteiro Albino o 8º da geral.
Heitor de Morais voltava a não ser feliz e abandonava com problemas numa rótula do braço da suspensão.

VIII VOLTA À ILHA DE S. MIGUEL – AGOSTO DE 1972


Foram 31 os concorrentes que se inscreveram na prova açoriana que foi disputada sob a direcção de Augusto Aguiar Machado.
Desta vez foi um Porsche o vencedor, com António Borges à frente de duas duplas locais e de Raposo de Magalhães que venceu o grupo 2. Carpinteiro Albino foi desta vez o melhor entre os da sua equipa, terminado na 5ª posição da geral e 1º no seu grupo.
Heitor de Morais abandonou na 1ª etapa com a suspensão partida; Luís Netto desistiu por sobreaquecimento na 1ª etapa; Mário Figueiredo teve avaria na bomba de óleo na 2ª etapa, mas estava a realizar uma excelente prova com vitórias à geral na 1ª e 3ª classificativas.
Note-se que nesta altura e talvez devido aos vários azares do início da época, Manuela Souto tinha já suspendido a sua actividade na equipa Torralta-Fiat.

VOLTA À MADEIRA – SETEMBRO DE 1972


A outra prova insular foi a Volta à Ilha da Madeira cujo director era o Dr. José Alberto Brandão Luís.
Os concorrentes queixaram-se do formato desportivo apresentado, já que os tempos das provas classificativas contavam apenas um terço dos resultados obtidos na estrada.
Mas Luis Netto e Jocames passaram incólumes a esse facto e especialmente ao nevoeiro que se fez sentir, vencendo à geral à frente do Porsche 911 S de Américo Nunes. Diga-se aliás que foi esta a última prova de Nunes na “bomba verde” já que o carro ficou na Madeira, vendido a Alexandre Rebelo.
Mário Figueiredo que fez também uma boa pontuação, já que alcançou a 4ª posição geral sendo 2º no grupo e Carpinteiro Albino, com o 3º lugar em grupo 1 (5º da geral), também limitaram as perdas de pontos para o agora mais favorito Netto.
Assim e quando apenas faltava disputar o Rali TAP, Luís Netto comandava o campeonato com 839,5 pontos, sendo Mário Figueiredo o 2º com 805 e Carpinteiro Albino o 3º com 761. Como havia que rejeitar alguns resultados entre as provas pontuáveis muito poderia ainda acontecer na prova da TAP.

VI RALI INTERNACIONAL TAP – OUTUBRO DE 1972



A decisão dos campeonatos nacionais teve assim lugar no Rali TAP que em 1972 era já uma prova de grande prestígio internacional e preparava a sua entrada no Mundial de Ralis que teria no ano seguinte a sua primeira edição.
Mas apesar da presença das fortes equipas da Citroen, Fiat, Datsun e Alpine Renault, com as suas berlinetas, acabou por haver um vencedor surpresa com o triunfo da dupla Achim Warmbold – John Davenport ao volante de um BMW 2002. A melhor equipa portuguesa acabou por ser a constituída por Giovanni Salvi e Luigi Valle que tinham já abandonado o Datsun 240 Z da equipa Kendall e regressaram a um Porsche idêntico ao que lhes havia dado o título no ano passado.
Ao terminar no 11º posto, Luis Netto e “Jocames” venceram o Grupo 1 e assim triunfaram também no campeonato. Heitor de Morais (com A. Mascarenhas) foi 15º da geral numa época em que não foi muito feliz, andando muito abaixo do que mostrara nos seus bons tempos do Morris Cooper S.
No fim, António Borges ganhou o campeonato dos grupos 3/4, Raposo de Magalhães venceu o grupo 2, suplantando na última prova o BMW 2002 Alpina de Jorge Nascimento e no grupo 1 ficaram 3 Fiat-Torralta nas 3 primeiras posições, pela ordem classificativa Netto, Figueiredo e Albino.

RALI DO RACE – OUTUBRO DE 1972
O campeonato estava assim ganho para Luís Netto e a equipa Fiat, mas havia ainda mais uma hipótese de juntar outra vitória ao pecúlio do Team, já que ainda faltava entregar o título ibérico de Ralis!
Por isso Luís Netto deslocou-se ao Rali Race, prova que teve 85 participantes entre os quais outro português, Américo Nunes, que também era candidato ao mesmo troféu.
No entanto o piloto do Porsche realizou uma primeira etapa demasiado cautelosa e classificou-se no final apenas no 19º posto, ficando o título entregue ao Fiat 125 S de Luís Netto que nesta prova estava preparado em especificações de grupo 2 e teria cerca de 120 cavalos.
Netto foi 12º classificado, sendo o 3º do grupo atrás de Marie Claude Beaumont (Opel) e Johan Wiklund (BMW). Venceu o suíço Marc Etchebers ao volante de um Porsche 911 S, seguido do Seat de Salvador Canellas que assim foi campeão espanhol de Ralis. O campeão europeu acabou por ser Rafaelle Pinto, que com vários problemas no seu Fiat 124 Spider classificou-se apenas no 15º posto.

Foi assim uma época de sucesso para a equipa Fiat. Quanto aos Fiat 125 S da Torralta, esses irão desaparecer a seguir quase totalmente das provas, sendo conhecidas algumas participações (ambos ao volante de carros ex. Torralta ) de João Queiróz (Iniciados) e especialmente o 22º posto no Rali TAP 74 de Anthony Stillwell, um inglês residente em Portugal que correu pela equipa Cinegra-VIP e fazia equipa com o ultra-consagrado Ron Crellin, antigo navegador da BMC nos seus tempos áureos.


No ano seguinte a marca italiana vai alinhar em Portugal com os mais potentes 124 Spider e por isso apostar nas vitórias à geral. Mas disso falaremos na próxima T&C…

Agradecimentos são devidos a Augusto Roxo, José Romão de Sousa e Manuel Romão de Sousa pela ajuda dada à elaboração deste texto.
As fotos publicadas são de publicações da época (colecção JMF) ou foram retiradas do facebook.