9 de dezembro de 2022

FIAT 128 CECCATO - 1971

 

FIAT 128 CECCATO - 1971

Texto: José Mota Freitas - Publicado na revista Topos & Clássicos

Em 1971 uma equipa constituída por 3 Fiat 128 disputou o Campeonato Nacional de Ralis. Hoje vamos acompanhar as provas desses 3 automóveis preparados em Itália por Ceccato.

O Fiat 128 foi na sua época um automóvel inovador. A tração dianteira e o motor à frente romperam até com algumas normas habituais nos automóveis da marca. A apresentação do modelo ocorreu em 1969 e em 1970 foram vários os exemplares que disputaram Ralis internacionais.

Para a disputa do Nacional de Ralis de 1971 anunciava-se a presença de 3 Fiat 128 com boa preparação e inscritos no Grupo 2. Lembre-se que nesta altura os campeonatos nacionais se disputavam separadamente. Havia o campeonato de Turismo de Série (Grupo 1) o de Turismo Especial (Grupo 2) e o de Grande Turismo (Grupos 3 e 4).

A primeira prova do campeonato foi o Rali Targa, disputado em Fevereiro e os 128 ainda não alinharam já que ainda não estavam prontos. O vencedor foi Ernesto Neves, que, fazendo equipa com Portela Morais, conseguiu a única vitória de um NSU numa prova do Nacional de Ralis português.

A estreia dos Fiat 128 ocorreu assim na 2ª prova do campeonato a Volta a Portugal, disputada entre os dias 4 a 7 de Março.

Os carros foram montados em Portugal tendo ido para Itália para serem transformados nas oficinas da Fiat - Ceccato di Schio em Vicenza, “preparatore” e agente (ainda hoje) da Fiat.

A preparação consistiu na montagem de uma nova árvore de cames, pistões, colector de escape, 2 carburadores Weber, radiador de óleo, radiador de água suplementar (no local da chauffage) e umas jantes “GT” de 5,5 polegadas.

A potência anunciada (embora aparentemente “por baixo” …) era de cerca de 75 cavalos às 8000 rpm. Os carros utilizavam pneus Seiberling SP300.

Os carros chegaram quase em cima da Volta e vieram desde Itália por estrada para melhor efectuarem a sua rodagem. A Assistência em Portugal ficou a cargo das oficinas de Mário de Jesus, o qual aliás já tinha ido a Itália durante a preparação dos carros para melhor acompanhar o trabalho que estava a ser realizado pelos seus colegas italianos.

Os carros, que tinham apoio da própria Fiat portuguesa e ficaram integrados no “Team Pedro Machado - Seiberling” eram conduzidos por Luís Netto, pelo Eng.º Heitor de Morais e por Carlos Moura Pinheiro.

Netto tinha sido no ano anterior vice-campeão nacional em Turismo Especial (atrás de Carpinteiro Albino), mas em 1969 havia já conseguido esse título, sempre ao volante do seu Austin Cooper S “AL-38-28”. Heitor de Morais, ultimamente conduzia o seu Morris Cooper S “EC-57-25” e com ele havia sido o campeão de Grupo 2 no ano de 1968.

 

As matrículas dos carros e as duplas que neles alinhavam eram então as seguintes:

            # CH – 83 – 86   Carlos Moura Pinheiro -

            # CH – 83 – 87   Luís Netto – “Jocames”

            # CH – 83 – 88   Heitor de Morais – Ruella Ramos

 

A concorrência no Turismo Especial era grande: Jorge Nascimento alinhava num competitivo BMW 2002 Alpina; César Torres tinha um Mini 1275 GT “oficial” (fez a primeira prova do ano num Austin 1300 GT); Artur Santos e David Cabral conduziam os resistentes e robustos Datsun 1600 SSS; Francisco Santos esperava a chegada do novo Ford Escort BDA e tinha o seu Twin-Cam para as primeiras provas. Um carro idêntico teria Hermes Góis; João Nabais e Carpinteiro Albino tripulavam os novos VW 1302 S e havia sempre que contar com os vários Mini Cooper S como o de Fernando Batista, que inicialmente apostava num Austin 1800 que não se haveria de mostrar muito competitivo.

 

XXII VOLTA A PORTUGAL – MARÇO DE 1971

A prova de estreia dos 128 disputava-se ao longo de 2300 km e recebeu 15 inscrições no Grupo 2. Curiosamente foi nesta prova que ocorreu também a estreia do novo modelo do Mini, o “1275 GT” com um carro tripulado por Alfredo César Torres.

Os Fiat acusaram desde logo problemas (que se pensava serem) de juventude e apenas a dupla constituída por Neto e “Jocames” logrou atingir o final.

Heitor de Morais teve 3 furos no troço de Arganil e, estando a “andar sobre as jantes”, teve que abandonar; Moura Pinheiro abandonou com problemas mecânicos, mas curiosamente revelou-se bastante rápido enquanto esteve em prova.

Luís Netto apesar da pouca adaptação ao carro e com rapports errados conseguiu terminar na 6ª posição, sendo o 2º do rupo e 1º na classe. A vitória nesta edição da “Volta” coube a Américo Nunes/Castelo Branco ao volante do Porsche 911 ST que era conhecido como a “Bomba Verde” e entre os Grupos 2 o primeiro foi José Carpinteiro Albino em Volkswagen.

 XVI RALI DAS CAMÉLIAS – MARÇO DE 1971

Alinharam 43 concorrentes para os 424 Km do percurso. Esta prova assistiu à participação do primeiro Alpine A110 (1600 S) “português” conduzido por António Bastos e o BMW 2002 Alpina ex. José Lampreia fez a sua primeira prova pelas mãos de António Borges, que, refira-se, era o Campeão Nacional de Iniciados em título.

Luís Netto (que estava inscrito) não alinhou na prova, tendo Heitor de Morais e o director do jornal “Motor” Dr. Ruella Ramos, abandonado a competição.

Carlos Moura Pinheiro e José Romão de Sousa conseguiram terminar na 13ª posição, sendo 7ºs classificados no Grupo 2.

O vencedor da prova foi Francisco Santos em Ford Escort TC. Em 2ª posição ficou Fernando Baptista que agora voltava ao seu habitual Austin Cooper S, abandonando assim o pouco competitivo Austin 1800 que tripulou nas primeiras provas do ano.

 VII RALI ÀS ANTAS – ABRIL DE 1971

O Futebol Clube do Porto conseguiu atrair 30 participantes ao seu Rali às Antas e entre eles estavam os 3 carros do Team Sieberling.

Mas mais uma vez ficou provado que os Fiat eram bonitos mas pouco competitivos e Luís Netto e Heitor de Morais seriam mesmo desclassificados no final da primeira etapa por terem excedido o limite de penalização. E mesmo Carlos Moura Pinheiro que conseguiu atingir o final da prova no 9º posto, seria também desclassificado pelo mesmo motivo juntamente com outros 3 concorrentes. O vencedor da prova foi Américo Nunes.

RALI RAINHA SANTA – ABRIL DE 1971

A prova do Clube Automóvel do Centro era habitualmente uma das mais bem organizadas do calendário nacional, mas esta edição de 71 seria manchada por um erro de marcação no percurso que iria levar a alterações de última hora com anulação de alguns dos troços e consequente alteração da verdade desportiva.

Desta vez apenas alinhou o Fiat 128 de Carlos Moura Pinheiro que conseguiu terminar num razoável 7º posto da geral, sendo 4º no grupo e 1º na classe. Terminaram 21 concorrentes e o vencedor foi Giovanni Salvi (com José Arnaud) em Porsche 911 L, tendo Jorge Nascimento e Manuel Coentro (BMW 2002) vencido o Grupo 2.

 XVI VOLTA AO MINHO – MAIO DE 1971

Organizada pelo Sport Clube do Porto a prova tinha 437,3 km de extensão e admitiu 31 concorrentes.

Luís Netto voltou a estar ausente, mas Heitor Morais e Moura Pinheiro apareciam entre os inscritos.

E foi mesmo o antigo piloto da Morris, Heitor de Morais, que conseguiu desta feita terminar uma prova após quase 2 anos de abandonos consecutivos, acabando no 11º posto (6º no grupo 2) entre os 13 concorrentes que terminaram a prova.

Carlos Moura Pinheiro abandonou logo no 1º troço (!) com problemas se suspensão.

A prova foi ganha por Jorge Nascimento que vencei também o grupo 2 lançando-se assim decisivamente para a conquista do campeonato.

XX RALI DA MONTANHA – MAIO DE 1971

A dura prova do Estrela e Vigorosa atraiu 31 inscritos, estando entre os ausentes Luís Netto que assim faltava à 3ª prova consecutiva.

Mais uma vez Heitor de Morais desistiu por avaria na embraiagem e Carlos Moura Pinheiro foi o único dos Fiat a terminar a prova, desta vez no 9º posto entre os 12 que terminaram. Foi também o 5º no Turismo Especial.

O melhor no grupo foi Francisco Santos (2º da geral), tendo o vencedor da prova sido de novo Giovanni Salvi, cujo Porsche era (como os Fiat) também patrocinado pelos pneus Seiberling.

 XVII RALI NOCTURNO DO SPORTING – MAIO DE 1971

De novo e após várias provas, estavam de novo inscritos os 3 carros do Team Pedro Machado. Luís Netto regressou após doença mas quem adoeceu desta vez foi o seu navegador João Canas Mendes, tendo à última hora sido convidado Carlos Ferreira para ocupar o seu lugar. Mas quase não treinaram a prova em conjunto.

E definitivamente os carros não eram competitivos: a mecânica revelava pouca potência e a robustez era nula especialmente no que diz respeito à suspensão. Este seria o motivo do abandono de Moura Pinheiro ainda na 1ª classificativa. Aliás Heitor de Morais e Luís Netto também teriam problemas de suspensão, e ainda por cima o regressado vice-campeão nacional penalizou 20 minutos por se ter perdido por 4 vezes (o navegador…).

No final Heitor de Morais foi 10º classificado (terminaram 12) e 6º entre os grupos 2. Venceu a prova Jorge Nacimento no BMW de Grupo 2.

 VII VOLTA À ILHA DE S. MIGUEL – AGOSTO DE 1971

O único entre os pilotos dos Fiat a fazer a cara deslocação aos Açores foi Moura Pinheiro que aliás nem teve tempo para “aquecer” já qua abandonou logo na 1ª classificativa e a poucos quilómetros da Ponta Delgada …

O vencedor-surpresa da prova foi Raúl Mendonça, que aproveitou os azares dos favoritos e levou o seu BMW 2002 de Grupo 1 ao triunfo final.

 Depois de mais este “desastre”, os Fiat 128 seriam definitivamente afastados dos ralis nacionais, já não alinhando na 13ª Volta à Madeira, prova que assistiu a uma estrondosa exibição de Giovanni Salvi e José Arnaud que inclusive andaram à frente do consagrado sueco Bjorn Waldegaard enquanto este esteve em prova.

O Rali TAP, agora já a prova mais importante do calendário nacional (Outubro) também não teve nenhum dos Fiat à partida o que se compreende já que dificilmente iriam aguentar a dureza do percurso. Entre os 144 que partiram apenas 9 terminaram, com o francês Jean Pierre Nicolas a levar a sua berlinetta ao triunfo.

No final da época foram assim coroados os novos campeões nacionais:

Grupo 1 - António Carlos Oliveira – “Barata”           Datsun 160 SSS

Grupo 2 - Jorge Nascimento – Manuel Coentro        BMW 2002

GP 3 e 4 - Giovanni Salvi – José Arnaud     Porsche 911 L

 

Entretanto havia saído em 1971 um novo modelo de Fiat 128, a versão “Rally” com maior cilindrada e mais cavalos, mas os principais pilotos internacionais não utilizavam regularmente o 128 para Ralis. Empregavam preferencialmente o 124 ou agora o novo 125 S e para a classe GT estava o 124 Spider 1600 a dar os seus primeiros passos, com pilotos como Hakan Lindberg, Alcide Paganelli ou o próprio Pino Ceccato, filho do preparador dos nossos 128 e hoje em dia o administrador do “Gruppo Ceccato”.

Na velocidade e nas épocas seguintes iremos assistir a excelentes preparações em Fiat 128, não só na versão normal como na Coupé (SL). Equipas como a Scuderia Filipinetti ou a Trivellato ficarão na memória de todos com os seus Fiat 128 ultra-desenvolvidos e o Jolly Club no final da década de 70 apresentou no Campeonato Europeu o excelente 128 Coupé que Lella Lombardi e Giani levaram à 4ª posição à geral na prova do ETCC disputada no Autódromo do Estoril.

Em relação aos nossos 3 Fiat 128 a partir desta altura pouco mais se viram. Luís Netto ainda tirou o seu da garagem para fazer a prova de Inauguração do Autódromo do Estoril, mas pouco mais se terá ouvido falar deles. Em relação aos pilotos da equipa, Netto em 1972 continuará na Fiat, mas integrado na Equipa Torralta, onde iá conquistar um novo título nacional, desta vez ao volante de um muito mais competitivo e robusto 125 S. Heitor de Morais também será um dos 4 pilotos dos Fiat 125 do “Team Torralta – Fiat”, mas sem grandes resultados, aliás a sua carreira de piloto terá terminado nessa altura. Quanto a Carlos Moura Pinheiro, talvez dos três o que melhor conta deu ao volante dos Fiat 128, irá em breve para Angola onde irá inclusive vencer Ralis ao volante de um Alpine A110 1600.

A aposta nos 128 Ceccato foi sem dúvida um projecto curioso mas sem grandes resultados. O facto é que os carros não davam para mais com as especificações que utilizavam.

Mas em 1973, César Flores (filho de Cipriano Flores, um nome sempre ligado à marca) fez algumas provas interessantes no Campeonato de promoção com um 128 Rally (# DG-82-98) e nos últimos anos, nos Clássicos 1300, vimos em Portugal alguns Fiat 128 verdadeiramente competitivos, com a chegada do carro de Paulo Lagoa e depois de Frederico Castro) e sobretudo do de Fernando Soares / Miguel Vaz, este curiosamente nos anos 70 um antigo carro da própria equipa da Ceccato…