FIAT 128 CECCATO - 1971
Texto: José Mota Freitas - Publicado na revista Topos & Clássicos
Em 1971 uma equipa constituída por 3 Fiat 128 disputou o Campeonato Nacional de Ralis. Hoje vamos acompanhar as provas desses 3 automóveis preparados em Itália por Ceccato.
O
Fiat 128 foi na sua época um automóvel inovador. A tração dianteira e o motor à
frente romperam até com algumas normas habituais nos automóveis da marca. A
apresentação do modelo ocorreu em 1969 e em 1970 foram vários os exemplares que
disputaram Ralis internacionais.
Para
a disputa do Nacional de Ralis de 1971 anunciava-se a presença de 3 Fiat 128
com boa preparação e inscritos no Grupo 2. Lembre-se que nesta altura os
campeonatos nacionais se disputavam separadamente. Havia o campeonato de
Turismo de Série (Grupo 1) o de Turismo Especial (Grupo 2) e o de Grande
Turismo (Grupos 3 e 4).
A
primeira prova do campeonato foi o Rali Targa, disputado em Fevereiro e os 128
ainda não alinharam já que ainda não estavam prontos. O vencedor foi Ernesto
Neves, que, fazendo equipa com Portela Morais, conseguiu a única vitória de um
NSU numa prova do Nacional de Ralis português.
A estreia
dos Fiat 128 ocorreu assim na 2ª prova do campeonato a Volta a Portugal,
disputada entre os dias 4 a 7 de Março.
Os
carros foram montados em Portugal tendo ido para Itália para serem
transformados nas oficinas da Fiat - Ceccato di Schio em Vicenza, “preparatore”
e agente (ainda hoje) da Fiat.
A
preparação consistiu na montagem de uma nova árvore de cames, pistões, colector
de escape, 2 carburadores Weber, radiador de óleo, radiador de água suplementar
(no local da chauffage) e umas jantes “GT” de 5,5 polegadas.
A
potência anunciada (embora aparentemente “por baixo” …) era de cerca de 75
cavalos às 8000 rpm. Os carros utilizavam pneus Seiberling SP300.
Os
carros chegaram quase em cima da Volta e vieram desde Itália por estrada para
melhor efectuarem a sua rodagem. A Assistência em Portugal ficou a cargo das
oficinas de Mário de Jesus, o qual aliás já tinha ido a Itália durante a
preparação dos carros para melhor acompanhar o trabalho que estava a ser
realizado pelos seus colegas italianos.
Os carros,
que tinham apoio da própria Fiat portuguesa e ficaram integrados no “Team Pedro
Machado - Seiberling” eram conduzidos por Luís Netto, pelo Eng.º Heitor de
Morais e por Carlos Moura Pinheiro.
Netto
tinha sido no ano anterior vice-campeão nacional em Turismo Especial (atrás de
Carpinteiro Albino), mas em 1969 havia já conseguido esse título, sempre ao
volante do seu Austin Cooper S “AL-38-28”. Heitor de Morais, ultimamente
conduzia o seu Morris Cooper S “EC-57-25” e com ele havia sido o campeão de Grupo
2 no ano de 1968.
As
matrículas dos carros e as duplas que neles alinhavam eram então as seguintes:
# CH – 83 – 86 Carlos Moura Pinheiro -
# CH – 83 – 87 Luís Netto – “Jocames”
# CH – 83 – 88 Heitor de Morais – Ruella Ramos
A
concorrência no Turismo Especial era grande: Jorge Nascimento alinhava num
competitivo BMW 2002 Alpina; César Torres tinha um Mini 1275 GT “oficial” (fez
a primeira prova do ano num Austin 1300 GT); Artur Santos e David Cabral
conduziam os resistentes e robustos Datsun 1600 SSS; Francisco Santos esperava
a chegada do novo Ford Escort BDA e tinha o seu Twin-Cam para as primeiras
provas. Um carro idêntico teria Hermes Góis; João Nabais e Carpinteiro Albino
tripulavam os novos VW 1302 S e havia sempre que contar com os vários Mini
Cooper S como o de Fernando Batista, que inicialmente apostava num Austin 1800
que não se haveria de mostrar muito competitivo.
XXII VOLTA A PORTUGAL – MARÇO DE 1971
A
prova de estreia dos 128 disputava-se ao longo de 2300 km e recebeu 15
inscrições no Grupo 2. Curiosamente foi nesta prova que ocorreu também a
estreia do novo modelo do Mini, o “1275 GT” com um carro tripulado por Alfredo
César Torres.
Os
Fiat acusaram desde logo problemas (que se pensava serem) de juventude e apenas
a dupla constituída por Neto e “Jocames” logrou atingir o final.
Heitor
de Morais teve 3 furos no troço de Arganil e, estando a “andar sobre as jantes”,
teve que abandonar; Moura Pinheiro abandonou com problemas mecânicos, mas curiosamente
revelou-se bastante rápido enquanto esteve em prova.
Luís
Netto apesar da pouca adaptação ao carro e com rapports errados conseguiu
terminar na 6ª posição, sendo o 2º do rupo e 1º na classe. A vitória nesta
edição da “Volta” coube a Américo Nunes/Castelo Branco ao volante do Porsche
911 ST que era conhecido como a “Bomba Verde” e entre os Grupos 2 o primeiro
foi José Carpinteiro Albino em Volkswagen.
Alinharam
43 concorrentes para os 424 Km do percurso. Esta prova assistiu à participação
do primeiro Alpine A110 (1600 S) “português” conduzido por António Bastos e o
BMW 2002 Alpina ex. José Lampreia fez a sua primeira prova pelas mãos de
António Borges, que, refira-se, era o Campeão Nacional de Iniciados em título.
Luís
Netto (que estava inscrito) não alinhou na prova, tendo Heitor de Morais e o
director do jornal “Motor” Dr. Ruella Ramos, abandonado a competição.
Carlos
Moura Pinheiro e José Romão de Sousa conseguiram terminar na 13ª posição, sendo
7ºs classificados no Grupo 2.
O
vencedor da prova foi Francisco Santos em Ford Escort TC. Em 2ª posição ficou
Fernando Baptista que agora voltava ao seu habitual Austin Cooper S,
abandonando assim o pouco competitivo Austin 1800 que tripulou nas primeiras
provas do ano.
O
Futebol Clube do Porto conseguiu atrair 30 participantes ao seu Rali às Antas e
entre eles estavam os 3 carros do Team Sieberling.
Mas mais uma vez ficou provado que os Fiat eram bonitos mas pouco competitivos e Luís Netto e Heitor de Morais seriam mesmo desclassificados no final da primeira etapa por terem excedido o limite de penalização. E mesmo Carlos Moura Pinheiro que conseguiu atingir o final da prova no 9º posto, seria também desclassificado pelo mesmo motivo juntamente com outros 3 concorrentes. O vencedor da prova foi Américo Nunes.
RALI RAINHA SANTA – ABRIL DE 1971
A
prova do Clube Automóvel do Centro era habitualmente uma das mais bem
organizadas do calendário nacional, mas esta edição de 71 seria manchada por um
erro de marcação no percurso que iria levar a alterações de última hora com
anulação de alguns dos troços e consequente alteração da verdade desportiva.
Desta
vez apenas alinhou o Fiat 128 de Carlos Moura Pinheiro que conseguiu terminar
num razoável 7º posto da geral, sendo 4º no grupo e 1º na classe. Terminaram 21
concorrentes e o vencedor foi Giovanni Salvi (com José Arnaud) em Porsche 911
L, tendo Jorge Nascimento e Manuel Coentro (BMW 2002) vencido o Grupo 2.
Organizada
pelo Sport Clube do Porto a prova tinha 437,3 km de extensão e admitiu 31
concorrentes.
Luís
Netto voltou a estar ausente, mas Heitor Morais e Moura Pinheiro apareciam
entre os inscritos.
E foi
mesmo o antigo piloto da Morris, Heitor de Morais, que conseguiu desta feita
terminar uma prova após quase 2 anos de abandonos consecutivos, acabando no 11º
posto (6º no grupo 2) entre os 13 concorrentes que terminaram a prova.
Carlos
Moura Pinheiro abandonou logo no 1º troço (!) com problemas se suspensão.
A prova foi ganha por Jorge Nascimento que vencei também o grupo 2 lançando-se assim decisivamente para a conquista do campeonato.
XX RALI DA MONTANHA – MAIO DE 1971
A
dura prova do Estrela e Vigorosa atraiu 31 inscritos, estando entre os ausentes
Luís Netto que assim faltava à 3ª prova consecutiva.
Mais
uma vez Heitor de Morais desistiu por avaria na embraiagem e Carlos Moura
Pinheiro foi o único dos Fiat a terminar a prova, desta vez no 9º posto entre
os 12 que terminaram. Foi também o 5º no Turismo Especial.
O
melhor no grupo foi Francisco Santos (2º da geral), tendo o vencedor da prova
sido de novo Giovanni Salvi, cujo Porsche era (como os Fiat) também patrocinado
pelos pneus Seiberling.
De
novo e após várias provas, estavam de novo inscritos os 3 carros do Team Pedro
Machado. Luís Netto regressou após doença mas quem adoeceu desta vez foi o seu
navegador João Canas Mendes, tendo à última hora sido convidado Carlos Ferreira
para ocupar o seu lugar. Mas quase não treinaram a prova em conjunto.
E
definitivamente os carros não eram competitivos: a mecânica revelava pouca
potência e a robustez era nula especialmente no que diz respeito à suspensão.
Este seria o motivo do abandono de Moura Pinheiro ainda na 1ª classificativa.
Aliás Heitor de Morais e Luís Netto também teriam problemas de suspensão, e
ainda por cima o regressado vice-campeão nacional penalizou 20 minutos por se
ter perdido por 4 vezes (o navegador…).
No
final Heitor de Morais foi 10º classificado (terminaram 12) e 6º entre os
grupos 2. Venceu a prova Jorge Nacimento no BMW de Grupo 2.
O
único entre os pilotos dos Fiat a fazer a cara deslocação aos Açores foi Moura
Pinheiro que aliás nem teve tempo para “aquecer” já qua abandonou logo na 1ª
classificativa e a poucos quilómetros da Ponta Delgada …
O
vencedor-surpresa da prova foi Raúl Mendonça, que aproveitou os azares dos
favoritos e levou o seu BMW 2002 de Grupo 1 ao triunfo final.
O
Rali TAP, agora já a prova mais importante do calendário nacional (Outubro) também
não teve nenhum dos Fiat à partida o que se compreende já que dificilmente
iriam aguentar a dureza do percurso. Entre os 144 que partiram apenas 9
terminaram, com o francês Jean Pierre Nicolas a levar a sua berlinetta ao triunfo.
No
final da época foram assim coroados os novos campeões nacionais:
Grupo
1 - António Carlos Oliveira – “Barata” Datsun 160 SSS
Grupo
2 - Jorge Nascimento – Manuel Coentro BMW
2002
GP
3 e 4 - Giovanni Salvi – José Arnaud Porsche
911 L
Entretanto
havia saído em 1971 um novo modelo de Fiat 128, a versão “Rally” com maior
cilindrada e mais cavalos, mas os principais pilotos internacionais não utilizavam
regularmente o 128 para Ralis. Empregavam preferencialmente o 124 ou agora o
novo 125 S e para a classe GT estava o 124 Spider 1600 a dar os seus primeiros
passos, com pilotos como Hakan Lindberg, Alcide Paganelli ou o próprio Pino
Ceccato, filho do preparador dos nossos 128 e hoje em dia o administrador do
“Gruppo Ceccato”.
Na
velocidade e nas épocas seguintes iremos assistir a excelentes preparações em
Fiat 128, não só na versão normal como na Coupé (SL). Equipas como a Scuderia
Filipinetti ou a Trivellato ficarão na memória de todos com os seus Fiat 128
ultra-desenvolvidos e o Jolly Club no final da década de 70 apresentou no
Campeonato Europeu o excelente 128 Coupé que Lella Lombardi e Giani levaram à
4ª posição à geral na prova do ETCC disputada no Autódromo do Estoril.
Em
relação aos nossos 3 Fiat 128 a partir desta altura pouco mais se viram. Luís
Netto ainda tirou o seu da garagem para fazer a prova de Inauguração do
Autódromo do Estoril, mas pouco mais se terá ouvido falar deles. Em relação aos
pilotos da equipa, Netto em 1972 continuará na Fiat, mas integrado na Equipa
Torralta, onde iá conquistar um novo título nacional, desta vez ao volante de
um muito mais competitivo e robusto 125 S. Heitor de Morais também será um dos
4 pilotos dos Fiat 125 do “Team Torralta – Fiat”, mas sem grandes resultados,
aliás a sua carreira de piloto terá terminado nessa altura. Quanto a Carlos
Moura Pinheiro, talvez dos três o que melhor conta deu ao volante dos Fiat 128,
irá em breve para Angola onde irá inclusive vencer Ralis ao volante de um
Alpine A110 1600.
A
aposta nos 128 Ceccato foi sem dúvida um projecto curioso mas sem grandes
resultados. O facto é que os carros não davam para mais com as especificações
que utilizavam.
Mas
em 1973, César Flores (filho de Cipriano Flores, um nome sempre ligado à marca) fez
algumas provas interessantes no Campeonato de promoção com um 128 Rally (#
DG-82-98) e nos últimos anos, nos Clássicos 1300, vimos em Portugal alguns Fiat
128 verdadeiramente competitivos, com a chegada do carro de Paulo Lagoa e depois de Frederico Castro) e sobretudo do de Fernando Soares / Miguel Vaz