UMA GRANDE 1ª VOLTA – JOÃO BAPTISTA EM 1981
A partir de 1974 os carros a bater nas provas de Grupo 1 até 1300 passaram
a ser os Simca, primeiro na versão Rallye 2 e a partir de 1978 com o modelo
Rallye 3, que atingia 110 cavalos e era quase inacessível para os seus
adversários diretos.
Em 1976, Carlos Prazeres Ferreira, ao volante do Alfa Romeo GTA Jr
da Auto-Riviera chegou a ameaçar os muitos Rallye 2 que na altura existiam,
classificando-se em 2ª posição em duas provas do Nacional: no Circuito da Costa
de Lisboa (em Maio, atrás de Edgar Fortes) e no Circuito Nacional de Julho
(atrás de Edgar também), ambos no Estoril.
Em 1978, os irmãos Mário e Rui Gonçalves regressam às competições
após 4 anos de ausência, ao volante de 2 Mini 1275 GTs (modelo sul-africano)
que António Ruão adquiriu em Inglaterra a Richard Longman. Note-se que Longman
foi Campeão britânico de Turismos (na altura disputado à Classe) ao volante de
carros idênticos.
Na estreia dos Minis, Mário Gonçalves foi primeiro nos treinos do
Circuito da Primavera (Estoril, Maio de 1978), no entanto teve problemas logo
na partida, mas ficando o seu irmão Rui em 2º da Classe atrás de Edgar Fortes,
nessa prova também em estreia do novo Rallye 3. Logo a seguir, na Rampa da
Serra da Estrela, Mário Gonçalves bateu mesmo os Simcas, deixando Edgar Fortes,
Rui Gonçalves (Mini) e Carlos Barata nos lugares seguintes.
Julho de 1981, Circuito da Costa Verde. Depois de tomar contacto
com o 1275 GT apenas nos treinos e obter o 4º crono, com tempo idêntico ao dos
irmãos Gonçalves 3 anos antes, Baptista fez um arranque “canhão” ultrapassando
o Simca de Carlos Barata (que tinha a pole-position) na travagem do Praia Azul.
No final da 1ª volta e para espanto de todos, era o Mini 1275 GT que comandava,
seguido dos 3 Simcas de Barata, Edgar Fortes e Nélson Cruz. Na 2ª volta o Mini
da Brut 33 passa já em 2º e na volta seguinte é já o 4º classificado. Os
problemas de sobreaquecimento fazem-no abandonar na 4ª volta.
Nesse ano, João Baptista terá ainda duas belas atuações ao volante
do Mini, com uma vitória na reabertura do Autódromo do Estoril, embora aproveitando
o abandono de Carlos Barata na última volta e novo triunfo entre os 1300 na
Rampa da Pena, em ambos os casos sobrepondo-se ao Simca Rallye 3 de Almeida
Pereira.
João Baptista, um grande piloto de Minis dos anos 70 e 80 que
nesse dia de Julho de 1981 muita gente fez sonhar.
Mas vejamos essa história contada por quem a bem conhece, isto é
pelo próprio João Baptista!
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No ano 81 como é do conhecimento
geral eu disputava as provas com o Austin Cooper S grupo 5, mas já
via desde o ano 79 no stand da J.J. Gonçalves na Rua da Constituição o
MINI 1275 GT branco que o Mário Gonçalves utilizou em 1978.
O carro permanecia lá à venda,
com os pneus em baixo e a única coisa de que me apercebia é que o
mantinham limpo, mas compradores nem vê-los. Fiz várias tentativas, poucas, mas
apenas no ano de 81 e com a ajuda do António Ruão acabei por adquirir o carro.
Isto aconteceu pois ele (Ruão) chegou a dar-me uma ajuda na preparação no
meu Mini grupo 5 e por isso eu ia algumas vezes a Paredes. A preparação
desse carro era feita também e sempre com a ajuda do incansável António Pereira.
Sei que estava a chegar de férias - naquela
altura isso era uma coisa ainda possível - e o “Nani das motos” tinha tratado
de tudo, já tinha o carro na Sport Garage e sentei-me nele, mas não
gostei da cadeira pois parecia uma baquet de Kart e eu gosto de guiar “à
camionista”, ou seja lá em cima. Bom, não houve muito a fazer e eu até nunca
fui de dar muito trabalho.
Assim fomos para Vila do Conde e eu
sem pretensão nenhuma. Em muito poucas voltas, mesmo muito poucas para não
gastar pneus, fiz o 4º tempo, muito junto aos Simca. Lembro que trouxe apenas
os pneus que estavam montados no carro com pelo menos 5 anos. Nem pneu de
reserva tinha…
Na corrida e quando foi dada a partida
de imediato passei para 3 e na travagem do Praia Azul passei os 2 Simca de 1 só
vez. Não fiz nada de especial, creiam, o carro era fantástico e eu nunca tinha
tido nada melhor. Quando apareci à frente, acreditem havia a
bancada no Castelo e duas na meta de frente para a outra e só vi tudo de
pé a aplaudir. Nunca na vida poderei esquecer tal coisa, foi fantástico. Tenho
a convicção que se durasse nunca mais me viam, mas a correia da ventoinha
saltou e eu tive de parar. Mais tarde fui a Rampa da Pena em Sintra. Antes de
subir partiu-se um apoio do motor. Eu não liguei mais ao carro pois era a
ultima prova do Campeonato Nacional e eu estava na corrida para ser campeão
com o Bacelar Moura o Alberto Freitas e o Quina Falcão no Grupo 5. Não
fiz 1 única subida de treinos nem a 1ª de prova quando, para espanto de
todos, aparece o nosso querido e saudoso Tasso Caio que foi “roubar” a 1
Mini de rua o material necessário para por o carro mais ou menos em ordem
e obrigou-me a subir. Ainda bem que o fez; Ganhei a rampa com 2.03.57
na única subida que fiz e bati o recorde anterior que pertencia a 1
Simca de um Sr. de nome Edgar Fortes com 2.04.57.
Para terminar só mais uma, relacionada
com este carro. Fui em Outubro ao Estoril mas troquei os horários e não
verifiquei. O Colégio de Comissários não de deixava alinhar. Eu pedi para alinhar
na última linha e “mais uma” se necessário pois só queria correr e não ia
interferir com ninguém. Assim foi (a prova não contava para o campeonato) e
terminei a discutir os 1ºs lugares com o Simca do Almeida Pereira que me
passava na reta e eu passava-o no interior até que fui ganhando algum
tempo e ele deixou de ter espaço para me passar no fundo da reta.
Passado uns tempos, dizia-se por ai,
que o carro já não tinha nada a ver com os carros quando vieram. Não faço ideia!
Um abraço a todos
J Baptista