19 de dezembro de 2016

UMA GRANDE 1ª VOLTA – JOÃO BAPTISTA EM 1981


A partir de 1974 os carros a bater nas provas de Grupo 1 até 1300 passaram a ser os Simca, primeiro na versão Rallye 2 e a partir de 1978 com o modelo Rallye 3, que atingia 110 cavalos e era quase inacessível para os seus adversários diretos.
Em 1976, Carlos Prazeres Ferreira, ao volante do Alfa Romeo GTA Jr da Auto-Riviera chegou a ameaçar os muitos Rallye 2 que na altura existiam, classificando-se em 2ª posição em duas provas do Nacional: no Circuito da Costa de Lisboa (em Maio, atrás de Edgar Fortes) e no Circuito Nacional de Julho (atrás de Edgar também), ambos no Estoril.
Em 1978, os irmãos Mário e Rui Gonçalves regressam às competições após 4 anos de ausência, ao volante de 2 Mini 1275 GTs (modelo sul-africano) que António Ruão adquiriu em Inglaterra a Richard Longman. Note-se que Longman foi Campeão britânico de Turismos (na altura disputado à Classe) ao volante de carros idênticos.

Na estreia dos Minis, Mário Gonçalves foi primeiro nos treinos do Circuito da Primavera (Estoril, Maio de 1978), no entanto teve problemas logo na partida, mas ficando o seu irmão Rui em 2º da Classe atrás de Edgar Fortes, nessa prova também em estreia do novo Rallye 3. Logo a seguir, na Rampa da Serra da Estrela, Mário Gonçalves bateu mesmo os Simcas, deixando Edgar Fortes, Rui Gonçalves (Mini) e Carlos Barata nos lugares seguintes.


Após o acidente de António Ruão no Circuito da Costa Verde, os 1275 GTs foram retirados da prova quando até já estavam na grelha de partida da prova de Grupo 1 até 1300 (eram favoritos) e nunca mais correram, só em 1981 e dando de novo um “ar da sua graça”. E o principal culpado disso foi João Baptista!


Julho de 1981, Circuito da Costa Verde. Depois de tomar contacto com o 1275 GT apenas nos treinos e obter o 4º crono, com tempo idêntico ao dos irmãos Gonçalves 3 anos antes, Baptista fez um arranque “canhão” ultrapassando o Simca de Carlos Barata (que tinha a pole-position) na travagem do Praia Azul. No final da 1ª volta e para espanto de todos, era o Mini 1275 GT que comandava, seguido dos 3 Simcas de Barata, Edgar Fortes e Nélson Cruz. Na 2ª volta o Mini da Brut 33 passa já em 2º e na volta seguinte é já o 4º classificado. Os problemas de sobreaquecimento fazem-no abandonar na 4ª volta.




Nesse ano, João Baptista terá ainda duas belas atuações ao volante do Mini, com uma vitória na reabertura do Autódromo do Estoril, embora aproveitando o abandono de Carlos Barata na última volta e novo triunfo entre os 1300 na Rampa da Pena, em ambos os casos sobrepondo-se ao Simca Rallye 3 de Almeida Pereira.
João Baptista, um grande piloto de Minis dos anos 70 e 80 que nesse dia de Julho de 1981 muita gente fez sonhar.
Mas vejamos essa história contada por quem a bem conhece, isto é pelo próprio João Baptista!

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No  ano 81 como é do conhecimento geral eu disputava as provas com o Austin Cooper S grupo 5, mas já via desde o ano 79 no stand da J.J. Gonçalves na Rua da Constituição o MINI 1275 GT branco que o Mário Gonçalves utilizou em 1978.
O carro permanecia lá à venda, com os pneus em baixo e a única coisa de que me apercebia é que o mantinham limpo, mas compradores nem vê-los. Fiz várias tentativas, poucas, mas apenas no ano de 81 e com a ajuda do António Ruão acabei por adquirir o carro. Isto aconteceu pois ele (Ruão) chegou a  dar-me uma ajuda na preparação no meu Mini grupo 5 e por isso eu ia algumas vezes  a Paredes. A preparação desse carro era feita também e sempre com a ajuda do incansável António Pereira.
 Sei que estava a chegar de férias - naquela altura isso era uma coisa ainda possível - e o “Nani das motos” tinha tratado de tudo, já tinha o carro  na Sport Garage e sentei-me nele, mas não gostei da cadeira pois parecia uma baquet de Kart e eu gosto de guiar “à camionista”, ou seja lá em cima. Bom, não houve muito a fazer e eu até nunca fui de dar muito trabalho. 
Assim fomos para Vila do Conde e eu sem pretensão nenhuma. Em muito poucas voltas, mesmo muito poucas para não gastar pneus, fiz o 4º tempo, muito junto aos Simca. Lembro que trouxe apenas os pneus que estavam montados no carro com pelo menos 5 anos. Nem pneu de reserva tinha…



Na corrida e quando foi dada a partida de imediato passei para 3 e na travagem do Praia Azul passei os 2 Simca de 1 só vez. Não fiz nada de especial, creiam, o carro era fantástico e eu nunca tinha tido nada melhor. Quando apareci   à frente, acreditem havia a bancada  no Castelo e duas na meta de frente para a outra e só vi tudo de pé a aplaudir. Nunca na vida poderei esquecer tal coisa, foi fantástico. Tenho a convicção que se durasse nunca mais me viam, mas a correia da ventoinha saltou e eu tive de parar. Mais tarde fui a Rampa da Pena em Sintra. Antes de subir partiu-se um apoio do motor. Eu não liguei mais ao carro pois era a ultima prova do Campeonato Nacional e eu  estava na corrida para ser campeão com o Bacelar Moura o Alberto Freitas e o Quina Falcão no Grupo 5.  Não fiz 1 única subida de treinos nem a 1ª de prova quando, para espanto de todos, aparece o nosso querido e saudoso Tasso Caio que foi “roubar” a  1 Mini de rua  o material necessário para por o carro mais ou menos em ordem e obrigou-me a subir. Ainda bem que o fez;  Ganhei a rampa com  2.03.57 na única subida  que fiz e  bati o recorde anterior que pertencia a 1 Simca de um Sr. de nome Edgar Fortes com 2.04.57.
Para terminar só mais uma, relacionada com este carro. Fui em Outubro ao Estoril mas troquei os horários e não verifiquei. O Colégio de Comissários não de deixava alinhar. Eu pedi para alinhar na última linha e “mais uma” se necessário pois só queria correr e não ia interferir com ninguém. Assim foi (a prova não contava para o campeonato) e terminei a discutir os 1ºs lugares com o Simca do Almeida Pereira que me passava na reta e eu passava-o no interior até que fui  ganhando algum tempo e  ele deixou de ter espaço para me passar no fundo da reta.


Passado uns tempos, dizia-se por ai, que o carro já não tinha nada a ver com os carros quando vieram. Não faço ideia!

Um abraço a todos

J Baptista