22 de dezembro de 2016



PORTUGUESES EM SPORT 2 LITROS (1972-81)

Texto: José Mota Freitas


Vários pilotos portugueses tiveram oportunidade de conduzir os competitivos protótipos de Sport 2 Litros da década de 70, em provas nacionais e internacionais.

ÁLVARO PARENTE (Aurora Porsche 906)


Em 1976, Álvaro Parente conduzia habitualmente um Ford Capri 3000 preparado na Broadspeed e era um dos mais rápidos pilotos no Grupo 1 nacional. A sua única presença em provas de Sport terá acontecido em Abril de 1976 e de forma inesperada, pois quem estava inicialmente inscrito com o Porsche Aurora era José Carlos Sequeira Ferreira. Depois de obter um lugar na primeira linha da grelha, Parente conseguiria um excelente 2º lugar, numa prova de Formula Livre do “Circuito Costa de Lisboa”, ganha por Carlos Santos no GRD S73. Curiosamente, à frente de Santos Mendonça (Merlyn) e do habitual piloto do carro, Robert Giannone, que nesse dia preferiu alinhar com o Lotus de Formula Ford. Na 9ª posição dessa prova, que agrupava carros de diversas procedências, ficou Camilo Figueiredo no velho Olympic (ex. Mané Nogueira Pinto, ex. Giannone e ex. António Borges) e o 10 º classificado foi António Carvalho Alves (Palma V), Tio do jornalista Tiago Carvalho Alves…

ANTÓNIO PEIXINHO (Lola T212-Ford, Lola T292-BMW)


Desde o início dos anos 60 que António Peixinho era um dos mais competitivos pilotos portugueses, com vitórias em automóveis como o Lotus Elan, o Ford Cortina Lotus, ou o Ferrari LM de Pierre de Siebenthal. No final da década de 60 vai correr para Angola, integrando a equipa da Socoina (agente Alfa Romeo) sendo desde logo um crónico vencedor das provas em que participava, quer no início com o Alfa GTA, quer depois com o GTAm, ou com o protótipo T33. Em 1972 e depois de disputadas as 3 Horas de Luanda a Autodel (empresa gestora do Autódromo de Luanda) adquire o Lola T212 ao piloto–preparador sul-africano André Verwey, um dos participantes nessa prova. O carro, de cor verde é pintado de vermelho e entregue a António Peixinho que desde logo fica praticamente imbatível pelas outras máquinas do parque automóvel angolano. Provou-o logo depois em Novo Redondo onde obteve uma fácil vitória. Para a época de 73, a Autodel resolve fazer um investimento ainda maior e adquire um dos novos Lola T292, equipado com um potente motor BMW (270 cv) preparado pela Schnitzer. 
A estreia do carro ocorre na primeira prova da Temporada Internacional, disputada em Luanda, mas problemas vários fazem com que apenas na última prova, disputada em Benguela, a dupla Peixinho-Nicha Cabral consiga aproveitar na sua total plenitude as possibilidades do Lola e vença, deixando o outro carro idêntico, do norueguês Ray Fallo, na 2ª posição. 
No ano seguinte (1974) o Lola passa para as mãos de Mabílio de Albuquerque, que convida Peixinho para com ele partilhar a sua condução na primeira prova da Temporada Internacional, as 6 Horas Internacionais do Huambo, Nova Lisboa. Seria a última prova da extraordinária carreira de Peixinho, coroada por mais uma excelente vitória, e logo na mais carismática prova do país da sua paixão: Angola.

ANTÓNIO SANTOS MENDONÇA (Lola T292-Ford)


Depois de se ter revelado um valor sólido ao volante dos monopostos da Formula Vê (1968-69) e Ford (1970-72), Santos Mendonça foi convidado para substituir Nicha Cabral no Team BIP após os 1000 km de Monza, em 1973. 
Logo na sua primeira prova com o Lola T292, Mendonça conseguiu fazer parte da equipa vencedora entre os 2 Litros nos 1000 km de Spa-Francorchamps (Mundial de Marcas), fazendo equipa com Carlos Santos, apesar da sua inexperiência em carros de Sport o fazer rodar em tempos muito inferiores aos do seu colega de equipa. Em Agosto participaria também no Circuito de Vila do Conde (desistência). Ficaria por aqui a carreira de Mendonça em automóveis de Sport, já que em 1976 iria regressar ao seu Merlyn MK20 de Formula Ford, carro com que se sentia muito mais à vontade, abandonando as competições no final da época de 77.

BANDEIRA VIEIRA (Chevron B23-Ford)

Em 1974, Bandeira Vieira conduziu o Chevron de Waldemar Teixeira no Circuito de Benguela, disputado a 11 e 12 de Maio de 1974. A prova tinha a duração de 40 voltas e Mabílio de Albuquerque (Lola), saindo à frente, dominou durante as primeiras 10 passagens, altura em que teve que ir às boxes. O velho Lotus 23 de Carlos Conde comandou ainda durante uma volta, mas Bandeira Vieira impôs os cavalos do motor Ford FVC do seu Chevron e passou para o comando, que manteria até duas voltas do fim. 
Nessa altura, e porque Conde também tinha ido às boxes (à 36ª volta), passa para o comando o piloto local Herculano Areias, que assim dá a última vitória na última participação numa corrida ao Porsche Carrera 6, ex. Filipe Nogueira e ex. Américo Nunes. Bandeira Vieira poderá eventualmente ter adquirido posteriormente o Chevron a Waldemar Teixeira, pois alegadamente terá proposto em 1975 a sua troca por um terreno em Luanda, a Fernando Carneiro…

CARLOS CONDE (Lotus 23-Ford, Chevron B23-Ford)


De facto, Carlos Conde só fez uma prova com um verdadeiro Sport dos anos 70, quando conduziu um dos Chevron B23 do Team Robert Hudson na 3ª prova da Temporada Angolana de 1974, as 2 Horas de Luanda. Fazendo equipa com o britânico Robin Smith, conseguiu um bom 3º lugar final depois de ter obtido o mesmo lugar nos treinos cronometrados. Falava-se mesmo que Conde pensava em adquirir o carro após a prova, mas tal não se veio de facto a verificar. No entanto, Conde corria já em 71 e 72 com um protótipo pois conduzia um velho Lotus 23, o ex. carro de Emílio Marta, um automóvel que sendo bastante leve e estando equipado com um motor Ford FVC 1800 se tornava bastante competitivo a nível local. 
Mais tarde, trouxe esse carro para Portugal, tendo ainda realizado duas provas de Fórmula Livre no Autódromo do Estoril em Julho e Agosto de 1977. Mas, tendo o carro revelado múltiplos problemas mecânicos, nem o Lotus nem Conde a partir dessa data voltariam a aparecer…

CARLOS GASPAR (Lola T292-Ford)



Na longa e vitoriosa carreira de Carlos Gaspar, a última temporada, a de 1973, foi efectuada ao volante do Lola T292 (#HU-52) do Team BIP. Vários problemas (mecânicos e outros) impediram Gaspar de materializar em resultados o seu bom desempenho em pistas internacionais como Monza, Spa, Charade ou Barcelona, mas teria no fim do ano possibilidade de festejar o seu 2º título nacional após vencer em Vila do Conde, Estoril e Vila Real e obter um excelente 5º lugar no GP Internacional do ACP, no Estoril. 
Mas, decerto que Gaspar guardará uma das maiores recordações de toda a vida desportiva pela sua vitória em Vila Real, Julho de 1973, naquela que foi uma das melhores corridas de sempre disputadas em Portugal. Arrancando da 1ª fila, Gaspar fez um mau arranque, e na 1ª volta era apenas 9º. Na terceira volta já era 6º. Na sexta era 5º e na sétima 3º, iniciando depois uma recuperação sensacional que o levou a bater o recorde da volta, e aproveitando também os problemas do GRD oficial de Dave Walker, venceu irresistivelmente, apesar do “forcing” final do Chevron do consagrado Peter Ghetin. Para quem, como eu, assistiu a esta prova, não é fácil descrever em poucas linhas o brilhantismo da vitória de Gaspar, que infelizmente abandonaria a carreira no fim dessa época de 73.

CARLOS SANTOS (Chevron B21-Ford, Lola T292-Ford, GRS S73-Ford)


Unanimemente considerado um dos melhores pilotos portugueses das décadas de 60 e 70, Carlos Santos estava habitado à condução de automóveis potentes quando em 1972 se estreou ao volante de uma “Barchetta” de 2 Litros. Curiosamente, venceu em dia de estreia, pois impôs surpreendentemente o Chevron B21 que partilhava com o inglês Roger Heavens nas 6 Horas de Nova Lisboa, em Angola - Agosto de 1972. E nem toda a gente se poderá gabar de ter feito o mesmo que Santos nesse dia, pois atrás de si, em 2º lugar, ficou uma dupla famosa que conduzia um Lola T290 da equipa Bonnier, composta por Vic Elford e Gerard Larrousse. Em 1973, Santos foi integrado no Team BIP, tendo em Maio obtido um excelente 6º lugar da Geral e vitória entre dois 2 Litros nos 1000 de Spa Francorchamps. O seu companheiro de equipa foi nesse dia António Santos Mendonça. Mas, provavelmente o seu melhor desempenho nessa época terá sido o 4º lugar absoluto em Clermont Ferrand (le plus beau circuit du monde…), na disputa dos 300 Km de Auvergne, prova a contar para o europeu de Sport em Junho de 1973. Nesse dia, Santos foi um excelente 4º classificado numa prova ganha pelo Lola – Ford BDG de Guy Edwards. Em Julho o piloto do Alto da Lixa teve um aparatoso acidente em Vila Real, tendo praticamente destruído o seu Lola T292 (#HU-47) e apressando certamente a sua saída da equipa BIP. Em Agosto apareceu em Vila do Conde ao volante do GRD ex. Ernesto Neves, tendo nesse dia a sua luta com o Lola de Carlos Gaspar sido o “prato forte” do programa vilacondense. No entanto Santos teria que se contentar com o 2º lugar. Em 1975 e 76, Carlos Santos utilizou o GRD em várias provas nacionais com várias vitórias em provas do Estoril e também na edição de 75 do Circuito de Vila do Conde. Abandonaria as competições no final de 1976, nunca mais se sentando num carro de corrida…

CARLOS SILVA (GRD S73-Ford e BMW)

Depois de correr algumas épocas no BMW 2002 Schnitzer ex. Mário Figueiredo, Carlos Oliveira e Silva adquiriu em 1979 o GRD (#72, ex. Bravo RR77) a Orlando Gonçalves. Na época de 80 fez 5 provas de rampa tendo obtido por três vezes (Serra da Estrela, Caramulo e Portalegre) o 5º lugar absoluto entre os portugueses. No final da época parecia que Silva estava a adaptar-se melhor ao carro de Sport (entretanto equipado com o motor BMW Schnitzer de 8 válvulas oriundo do BMW 2002) e por isso antevia-se uma época de 81 com melhores classificações nas Rampas do Nacional, as únicas provas que na altura admitiam protótipos de Grupo 6. No entanto, Carlos Silva iria vender o seu carro a Mário Silva e compraria mais tarde um belo Ford Escort Zakspeed, terminando assim a sua aventura em protótipos.

CHRISTIAN MELVILLE – (Abarth-Osella PA1, Chevron B23-Ford, Chev. B26-Ford)


Apesar de ter nascido na Bélgica, Christian Melville fez quase toda a sua carreira em Portugal. Depois de conduzir um Porsche 911 da equipa de José Lampreia e passar pelos BMW 2002 de Grupo 1, Melville iria fazer várias provas nos anos de 73 e 74 ao volante de carros de Sport. Em Junho de 73 tripulando um Abarth-Osella PA1, venceu a primeira prova do nacional de Montanha, a Rampa da Covilhã, batendo por cerca de 2 segundos o espanhol Luciano Ottero, que tripulou um Abarth do ano anterior e inscrito pela equipa Torino Corse. Depois de desistir em Setembro, na prova de Zeltweg a contar para o europeu da especialidade, Melville, tripulando de novo o Abarth –Osella PA1, igual aos da equipa oficial e guiados por Arturo Merzario, Deter Quester e Pino Pica, participaria em Outubro, nos 400 Km de Barcelona Seria o 6º classificado no somatório das duas mangas, numa prova ganha pelo francês Gerard Larrousse. No ano de 74, Melville disputaria 6 das 7 provas que compunham o Europeu, tendo obtido a 7ª posição na prova francesa do Castellet e o 8º lugar na Coppa Citta disputada em Agosto na pista siciliana de Enna-Pergusa. Nesse mesmo ano participou também em duas provas do Mundial de Marcas, levando o Chevron B26-Ford a um excelente 7º lugar da geral (e 2º entre os 2 Litros) na prova de Brands Hatch e fazendo equipa com o consagrado Alain de Cadenet. A partir de 75 e até ao final da década de 80, a carreira (nacional e internacional) de Melville iria passar para os carros de Turismo.

ERNESTO NEVES (GRD S73-Ford)


Desde meados dos anos 60, Ernesto Neves esteve ligado ao Team Palma, conduzindo os competitivos Lotus da equipa lisboeta e cotando-se como um piloto fora-de-série. Depois de em 1972 ter verificado que o seu Lotus 62 era já pouco competitivo quando em compita com os modernos protótipos de 2 Litros que nos visitaram para a disputa das provas de Vila Real e do Estoril, Palma resolve adquirir um dos novos automóveis de uma nova marca, fundada por antigos funcionários da Lotus, a GRD (Group Racing Developments). A estreia de Neves no GRD S73 (#72), equipado com um motor Ford BDA de 1997 cc preparado pela “Racing Engine Services”, ocorreu em Julho no Circuito de Vila Real. Depois de um excelente desempenho nos treinos, Nené desistiu (ruptura de um tubo de óleo) quando ocupava consistentemente o 3º lugar na corrida. Na semana seguinte, Nené iria ter outra actuação destacada, quando foi 4º da geral e melhor português na prova de Sport integrada no programa do Grande Prémio do ACP, disputada na pista do Estoril. Infelizmente, seria esta a última prova de Ernesto Neves no GRD, pois pouco tempo depois acabou inesperadamente o Team Palma e Nené abandonava as competições. Inesperadamente, na Rampa da Lagoa Azul de 1980, Mário Silva cedeu o seu carro (GRD #71) a Ernesto Neves, que assim voltou aos comandos de um GRD, sete anos depois! Nené foi nesse dia 2º, atrás do Porsche de Joaquim Moutinho! Um belo regresso e agora sim, um abandono definitivo!

GIOVANNI SALVI (GRD S73-Ford)
Piloto de Ralis por excelência, campeão nacional desta modalidade em 1971 (Porsche 911) e 1977 (Ford Escort RS 2000), mas com esporádicas participações em provas de velocidade (em 1975 com os DAF 55, por exemplo), Giovanni Salvi experimentou em 1980 a condução de um protótipo, alinhando na Rampa da Serra da Estrela. No entanto e logo na primeira subida de treinos partiu o motor do GRD de Mário Silva, ficando por aí a sua história em automóveis Sport de 2 Litros…

HÉLDER DE SOUSA (March 74S-Ford, Lola T292-BMW, GRD S73-Ford)


Em 1974, Hélder de Sousa teve a excelente oportunidade de conduzir um dos March 74S-Ford da equipa Paulenco Racing nas provas que compunham a Temporada Internacional de Angola. Os carros foram alugados pela equipa ETA-Mocar e Hélder fez equipa nas 3 provas com o espanhol Artemi Rosich Prats. Depois de duas provas marcadas por problemas de vária ordem, realizou uma estupenda exibição na 2ª manga das 3 Horas de Luanda, vencendo à frente do inglês Robin Smith em Chevron. No entanto, e como o catalão Artemi, o seu companheiro de equipa, fora apenas 7º na primeira manga apenas se pôde classificar no 4º lugar da geral da prova. Depois de finda a Temporada Internacional, a corrida disputada como habitualmente nas ruas de Sá da Bandeira, as 3 Horas de Huíla, foi marcada pela inesperada presença de Hélder de Sousa como companheiro de Mabílio de Albuquerque. A vitória foi mesmo para a dupla do Lola T292, que depois de sofrer problemas mecânicos, conseguiu recuperar o atraso em relação ao Porsche de Lopes de Almeida e Herculano Areias, vencendo sem contestação. Depois de regressar a Portugal continental e provavelmente de forma inesperada, Hélder de Sousa volta aos protótipos em 1978, fazendo a última prova da época, a Rampa James (Penha), ao volante do carro (GRD) de 0rlando Gonçalves. 0 piloto-jornalista apenas conseguiu o 12º lugar da geral pois teve que fazer a prova, que decorreu debaixo de forte chuva, com pneus slicks...

JORGE PEGO (Lola T212-Ford)


Em 1974 Jorge Pego fez toda a época angolana com o Lola T212 da Autodel, um protótipo que foi verde nas mãos de André Verwey, foi pintado de vermelho em 1972 (António Peixinho), passou a amarelo na época de 73 (Mabílio de Albuquerque) e para 74 apareceu de novo pintado de verde. O carro teve durante o ano diversos problemas mecânicos (e acidentes em Moçâmedes e Malange), tendo sido o 4º lugar na prova nacional de Luanda disputada em Junho, o melhor resultado da época. Pouco depois, Jorge Pego regressará a Portugal onde além de se dedicar ao jornalismo continuará esporadicamente a fazer o “gosto ao dedo”. Do seu Lola T212, em concreto, hoje nada se sabe…

JORGE PINHOL (Lola T292-Ford)


No início dos anos 70, Jorge Pinhol era um dos mais promissores pilotos portugueses e talvez aquele que mais apostava numa carreira internacional. Por isso não surpreendeu o convite para conduzir um dos Lola-BIP na campanha internacional de 73. No entanto a “malapata” que sempre o acompanhou em toda a carreira, não iria deixá-lo expressar todo o seu talento: Em Spa desistiu quando estava bem classificado, à frente do outro carro da equipa que iria vencer entre os 2 Litros; em Nurburgring, depois de ter obtido o 3º tempo entre os 2 Litros no treino de Sábado, é preso depois de uma queixa de Klaus Fritzinger que alegava que Pinhol lhe devia dinheiro referente a um aluguer (e a um aparatoso acidente…) com um Capri em 1972 no Estoril; em Agosto é à última hora impedido de correr em Vila do Conde, pois corria com licença inglesa e a prova não era internacional…Os melhores resultados da época foram por isso o 8º lugar no G.P. de Nogaro, em Outubro (Europeu de Sport) e o 3º lugar no Estoril na prova (também de Outubro) a contar para o Nacional de velocidade. Pinhol estaria parado nas épocas de 74, 75 e 76 e em 1977 para participar na prova portuguesa a contar para Mundial de Sport, tentou alugar um Lola a Alain de Cadenet e relançar a carreira, mas à última hora o negócio gorou-se. E foi com mais este azar que terminou de vez a carreira de Jorge Pinhol…

JORGE RIBEIRO DE SOUSA (GRD S73-Ford)

Autor de uma bem sucedida carreira em automóveis de Turismo (1º no Campeonato Nacional de Grupo 2 em 1973) Jorge Ribeiro de Sousa tinha planeado realizar, conjuntamente com Lumaro, uma completa época internacional em 1974, ora conduzindo o seu Ford Escort RS, ora guiando o GRD de Lumaro e aproveitando os motores BDA de ambos os carros. No entanto, os seus planos não seriam concretizados e a dupla portuguesa apenas participaria na última prova do Europeu de 2 Litros de 1974, disputada em Jarama no dia 20 de Outubro. Depois de um 20º lugar (entre 22 concorrentes…) nos treinos, a dupla portuguesa iria desistir durante a prova. Foi provavelmente a última corrida da carreira de “Dino”.

JOSÉ LUÍS TEIXEIRA DA SILVA (Chevron B23-Ford)


Depois de ter conduzido na época de 73 um competitivo Ford Capri RS 2600 adquirido à equipa de fábrica de Jochen Neerparsch, Teixeira da Silva foi ganhando experiência para se habilitar a outros “voos” mais altos. De tal forma, que previa para 1974 a constituição de uma equipa internacional em parceria com Nicha Cabral, denominada “Gold Scorpius Team”. A crise despoletada pelo 25 de Abril faria no entanto ruir todas as expectativas dos dois pilotos portugueses e Teixeira da Silva apenas guiará um Sport protótipo nas 2 Horas de Luanda disputadas em Setembro de 1974. O seu companheiro de equipa foi o próprio Nicha Cabral. No entanto, depois de obterem um bom 4º tempo nos treinos desistiriam na prova após avaria do Chevron alugado nesse dia à Promoto Racing.

LARAMA (March 74S-Ford)


Em 1974, Larama era provavelmente o mais cotado piloto angolano e por isso não estranhou que a equipa ETA-Mocar o convidasse para conduzir um dos dois March 74S que alugou à Paulenco Racing para a Temporada Internacional. E, de facto, Larama não deixaria os seus créditos por mãos alheias e seria o grande vencedor da Temporada Internacional, depois de obter 3 excelentes resultados: um 2º lugar em Nova Lisboa (em parceria com Roy Johnson); 3º em Benguela (também com Roy Johnson) e 1º em Luanda (com John Sabourin). Infelizmente, a sua carreira com protótipos estava também terminada. Pouco tempo depois Larama regressará a Portugal e a sua carreira a curto prazo passará pelos Ralis nos Açores, ao volante de um Ford Escort RS. Venceu mesmo a prova do Nacional de Ralis disputada em 1977 e 78 nos Açores, a “Volta à Ilha de S. Miguel”. Mais tarde, irá também participar (com algum sucesso) nos Troféus Citroen, mas já com o seu verdadeiro nome “Manuel Amaral”. Hoje, mantém-se activo no automobilismo nacional como empresário ligado à modalidade.

LUMARO (GRD S73-Ford)


O seu GRD S73 (#71), chegou a Portugal no mesmo dia que o seu “irmão” #72. No entanto Lumaro era muito menos experiente do que Ernesto Neves (mas já havia sido vice-campeão nacional de Formula Vê em 1972) e os resultados não apareceram de imediato. A estreia em Vila Real foi para esquecer já que apenas pôde dar uma volta à pista no dia da corrida, pois teve que abandonar por problemas mecânicos. Na semana seguinte, no GP do ACP no Estoril, Lumaro teria uma actuação mais conseguida obtendo um bom 9º lugar da Geral entre 20 concorrentes e rodando apenas a menos de 2 segundos dos melhores tempos de Nené. Em 1974, com a crise energética, quase não houve provas em Portugal e por isso Lumaro, no dia 20 de Outubro e fazendo equipa com Jorge Ribeiro de Sousa, levou o GRD com as cores dos relógios Seiko até Jarama, para participar na prova a contar para o Europeu de Sport de 2 Litros. Depois de obterem a 20ª posição nos treinos desistiram por avaria numa prova ganha pelo Alpine Renault de Jean Pierre Jabouille. Prosseguiria a carreira nacional com este carro até 1976, obtendo vários lugares de honra e algumas vitórias na entretanto criada “Fórmula Livre”, já que agrupava também os velhos monolugares das Fórmulas Ford e Vê. A sua importante vitória terá acontecido em 1975, quando venceu a prova integrada no Grande Prémio do ACP. Em 1977, o seu GRD passava a ser utilizado por Sídio Viana e Lumaro fazia uma incursão pelos os troféus monomarca e pelos clássicos, mas agora já utilizando o seu verdadeiro nome, Luís Madeira Rodrigues.

MABILIO DE ALBUQUERQUE (Lola T212-Ford, Lola T292-BMW)


Em 1971, Mabílio de Albuquerque aparece nas provas angolanas a conduzir o BMW 2002 Grahser ex. Miguel Correia e em 1973 passa a conduzir o Lola T212-Ford ex. Autodel (ex. André Verwey e António Peixinho). Essa primeira época ao volante de um protótipo não lhe traria grandes alegrias, mas o mesmo já não se poderá dizer da época seguinte, pois, já ao volante do Lola T292-BMW (#HU-59) foi o grande “campeão de Angola”, vencendo em Moçâmedes, Malange, Luanda (na prova nacional), Nova Lisboa (6 Horas Internacionais) e Sá da Bandeira (com Hélder de Sousa), e obtendo a 2ª posição em Benguela (prova nacional). Mas, em breve, o Dr. Mabilio de Albuquerque, como milhares de outros portugueses, regressava a Portugal e abandonava as competições, ficando no entanto para a história como sendo provavelmente o piloto português com mais vitórias em provas ao volante de um Sport de 2 Litros.

MANUEL NOGUEIRA PINTO (GRD S73-FORD)


Curiosamente, a última prova da carreira de Mané Nogueira Pinto terá sido também a sua única participação em provas ao volante de um carro de Sport. Em Março de 1974 apareceu surpreendentemente em Moçâmedes (Angola), no Circuito das Festas do Mar, com o GRD (#072) que, havia adquirido no ano anterior ao extinto Team Palma e (segundo os textos da época) cedido a Carlos Santos para as últimas provas de 1973. Na bela cidade costeira, hoje denominada Namibe, Mané depois de ter obtido o 2º melhor tempo nos treinos cronometrados, repetiu essa excelente posição na prova ganha pelo Lola BMW de Mabílio de Albuquerque. Um digno final de carreira para Mané, sem dúvida!

MÁRIO ARAÚJO CABRAL (Lola T290-Ford, Lola T292-Ford, Lola T292-BMW, March 73S-BMW, Chevron B21-Ford, March 74S-Ford, March 75S-Ford)


Nos anos 60 e 70 Mário Araújo Cabral era o piloto português mais internacional e mesmo o único a ser conhecido além fronteiras. Mas a sua carreira decorrera maioritariamente em monolugares e só no final da década de 60 (após o seu grave acidente em Rouen-1965) começou a competir em Sport-Protótipos. Em 1971 conduziu em Vila Real o Porsche 917 de David Piper à 2ª posição da geral e para 72 apostava numa época completa na equipa semi-oficial Lola dirigida por Joachim Bonnier. Depois de prestações decepcionantes em Nurburgring e em Le Mans (com um Lola de 3 litros), Nicha obteve um excelente 4º lugar em Vila Real. Ao volante do mesmo Lola T290 (#HU-02) e fazendo equipa com o francês Claude Swietlick, seria o 5º classificado em Nova Lisboa (Angola) depois de uma prova cheia de problemas mecânicos. Em 1973, apresenta-se a Nicha Cabral a boa oportunidade de entra na equipa BIP, fazendo equipa com Carlos Santos num dos Lola T292-Ford. No entanto em breve se desentenderia com Carlos Gaspar o responsável principal pela equipa do Banco Intercontinental e para Vila Real e Estoril já se apresentaria com um dos pouco competitivos March 73S-BMW (#10) da equipa Vic Elford. Mas Nicha faria duas excelentes provas e seria o 6º em ambas as ocasiões batendo-se com adversários muito melhor equipados. No Verão, partiu de novo para Angola e desta vez para fazer equipa com o seu arqui-rival António Peixinho no Lola-BMW da Autodel. Depois de duas provas decepcionantes (Luanda e Nova Lisboa) a “dupla-maravilha” venceu a 3ª prova, disputada no Autódromo de Benguela. Em 1974, depois de falhar a criação da equipa internacional “Gold Scorpius Team”, Araújo Cabral participaria de novo na Temporada Internacional de Angola, desta vez ao volante de um dos Chevron da equipa do importador local da Ford, Robert Hudson. Em Nova Lisboa e Benguela teria duas excelentes actuações, dominando ambas as provas durante bastante tempo, mas, desta vez, problemas mecânicos impediram-no de vencer de novo em Angola. Seria o 2º em Benguela, fazendo equipa com o piloto local José Luís Teixeira de Silva. No final do ano ainda guiaria um dos March, seus principais adversários em Angola, na última prova do Europeu de Sport 2 litros de 74 disputada em Jarama. Obteve um bom 8º lugar da geral numa prova dominada pelos Alpine-Renault A-441 de Jabouille e Larrousse. Parecia nesta altura que a carreira de Nicha estaria terminada, mas em 1975 reapareceria em força, disputando 5 provas do Mundial de Sport, ao volante do March 75S da equipa Promoto. Vários problemas e especialmente, a pouca competitividade do carro, e a pouca categoria dos co-equipiers (Castro-Prado, Roy Johnson, Alan Stubbs, Brett Lunger), impediram a obtenção de resultados de topo, tendo a melhor classificação da época sido o 14º lugar na pista austríaca de Osterreichring. Seria assim Nicha, e curiosamente, o único piloto do mundo a conduzir em anos consecutivos os (pouco competitivos…) March 73S, 74S e 75S. Este, o carro de Sport em que terminava a sua longa e brilhante carreira.

MÁRIO SILVA (GRD S73-Ford)


Em 1978 acabaram as corridas de Formula Livre em Portugal e a presença dos GRD fica limitada as provas de Rampa, que aliás eram cada vez em maior número, para compensar o encerramento do Autódromo do Estoril, que só reabriria em 1981. Mário Silva é sem dúvida um dos maiores e mais completos pilotos portugueses de sempre, tendo em 79, 80 e 81 conduzido automóveis de Sport 2 Litros em provas de Rampa. De facto, em 1979, adquiriu o GRD S73 (#71) a Sídio Viana, tendo-lhe a sua classe permitido vencer várias provas à geral, normalmente à frente do Porsche Aurora de António Barros. Na Rampa de Porto de Mós em 1981, a vitória iria para Mário Silva, tendo sido mesmo a última vitória de um GRD numa prova portuguesa. Curiosamente, Mário Silva vendeu pouco tempo depois o seu carro a Pedro Faria e adquiriu o carro idêntico de Carlos Silva e foi assim que ambos participaram na Rampa Koni (Pena), a última prova dos velhos GRD S73 no nosso país. Curiosamente, mais de 15 anos depois, Mário Silva iria ser o reintrodutor dos protótipos de 2 Litros em provas nacionais, quando apareceu nas provas de Clássicos com o seu Chevron B19, um carro que lhe iria dar muitas vitórias. E hoje, em 2006, Mário Silva é certamente o piloto português com mais provas em carros Sport 2 litros.

ORLANDO GONÇALVES (GRD S73-Ford, Bravo RR 77-Ford)


Depois de correr em Mini em meados da década de 60, Orlando Gonçalves radicou-se em França durante uma década, tendo participado em várias competições automobilísticas em terras gaulesas. Em 1977 aparece ao volante do GRD (#72, ex. Team Palma e ex. Carlos Santos), formando uma equipa, sedeada no Autódromo do Estoril e denominada “Orlando Racing Organization”. Nesse ano venceu no Circuito da Primavera (Maio) e no Grande Prémio do ACP (Outubro) as provas de Fórmula Livre. Mas a “coroa de glória” de Orlando Gonçalves seria sem dúvida a sua participação, em Julho de 1977, na prova disputada no Autódromo do Estoril a contar para o Campeonato Mundial de Sport. Nessa altura o GRD de Gonçalves era já denominado “Bravo RR 77”, depois de uma discutível alteração aerodinâmica e estética proposta pelo projectista Bravo Marinho, homem que há algum tempo tinha apresentado projectos (tecnicamente válidos, diga-se de passagem) para a preparação de um Formula 1. Com vários problemas mecânicos o carro passou muito tempo na Boxe e classificou-se em 8º e último da geral. As alterações propostas por Bravo Marinho seriam logo a seguir abandonadas, tendo a última prova de pista do (de novo) GRD sido saldada por uma vitória: foi no Circuito da Primavera, disputado em Abril de 1978. A partir 1980 o GRD S73 #72 seria usado em provas de rampa por Carlos Oliveira e Silva.

PEDRO FARIA (GRD S73-Ford)


Depois de realizar todo o campeonato de Iniciados em 1981 ao volante de um Fiat 131 Abarth (um carro ex. Giovanni Salvi), Pedro Faria fez a última Rampa da época (Rampa Koni - Pena) ao volante do GRD (#071) ex. Mário Silva. Foi a sua única experiência ao volante de um automóvel de Sport e a última prova em Portugal de um carro que passou pelas mãos de Lumaro, Sídio Viana, Mário Silva e … Pedro Faria.

ROBERT GIANNONE (Aurora Porsche 906)


Inesperadamente, Robert Giannone deixa em 1973 os monolugares que guiava há 5 anos e aparece ao volante de um interessante automóvel de Sport, um Porsche 906 (chassis #130, anteriormente conduzido por Fernando da Baviera, Alex Soler Roig, José de La Peña e Carlos Santos) transformado na Aurora num moderno “Spider” com linhas parecidas com os contemporâneos Lola e Chevron.
Eduardo Santos tinha conseguido o “milagre” de modernizar um velho Porsche fabricado em 1966, retirando-lhe muitos quilos do peso original e passando as jantes para a medida 13, muito mais pequena e eficiente do que a 15 com que vinham os 906 equipados de fábrica. O franco – belga irá conduzir este carro durante 3 anos, sendo evidente através da visualização das imagens da época a evolução constante no aspecto da carroçaria do Porsche, que foi evoluindo consoante “o estado da arte” e adquirindo, por exemplo, um vistoso “aileron” traseiro. A estreia de Giannone no Aurora Porsche 906 (chamemos-lhe assim…) ocorreu no Circuito de Vila Real, em Julho de 1973. Essa primeira participação do protótipo “made in Portugal” saldar-se-ia por uma desistência, mas na semana seguinte Giannone seria o 15º classificado na prova internacional disputada no Estoril. Em Outubro, e já com o carro pintado de castanho, Giannone obtinha a vitória “à geral” na Rampa do Targa, entre 50 concorrentes.
Em 1975, Robert Giannone contava com o Porsche cada vez mais competitivo (e com um aspecto cada vez mais moderno) face aos cada vez mais lentos GRD de Carlos Santos e Lumaro e faria uma época bastante completa e com excelentes resultados: 2º no GP do Estoril, 1º na Rampa da Pena, 2º no Circuito Nacional do ACP, 3º em Vila do Conde, e 1º na Rampa do Centro. No final do ano, seria proclamado o Vencedor do Campeonato de Grupos 2 a 5. Apenas a sua nacionalidade francesa não lhe permitiu a conquista do Campeonato Nacional.
A partir de 1976, Giannone voltaria ao seu Lotus de Formula Ford e a aquisição em 1977 de um Porsche Carrera RSR punha definitivamente de lado a sua breve mas frutuosa carreira em Sport-protótipos …

SÍDIO VIANA (GRD S73-Ford)


Tendo feito o Campeonato de Iniciados com o célebre Lotus Cortina (ex. Jim Clark) que adquiriu a Lumaro, Sídio Viana apareceu em 1977 ao volante do GRD (#071) adquirido ao mesmo Lumaro. No entanto as suas performances ao volante do protótipo inglês foram sempre sofríveis, sendo por vezes batido nas provas de Fórmula Livre (Grupos 6 a 8) pelos melhores Formula Ford. A sua única vitória teria lugar no Prémio Costa do Estoril em 1977, quando venceu a prova de Fórmula Livre disputada no mesmo dia da competição internacional a contar para o Mundial de Sport. Em 1978, Sídio Viana venderia carro a Mário Silva, abandonava as competições.

WALDEMAR TEIXEIRA (Chevron B23-Ford)


Em Setembro de 1973 Roger Heavens, depois da Temporada Internacional, deixa ficar em Angola o seu Chevron B23 (chassis #16) nas mãos de Waldemar Teixeira, o seu novo proprietário. Waldemar tinha já alguma experiência com carros de desporto pois conduzia habitualmente o Lotus 62 ex. Ernesto Neves. No entanto, se a manutenção de um automóvel de Sport ainda hoje não é fácil, na Angola dos anos 70 seria ainda mais difícil, e provavelmente por isso o Chevron apareceu em poucas provas. Em 73 fez a sua estreia nas mãos de Waldemar Teixeira na prova de Novo Redondo, onde obteve a 2ª posição na grelha de partida entre os dois Lola de Mabílio de Albuquerque (T212) e António Peixinho (T292). No entanto, depois de rodar em 2ª posição durante a prova seria obrigado a abandonar devido a um acidente. Em 74, Waldemar Teixeira trocará mesmo o Chevron pelo seu velho Lotus em algumas provas, retomando a condução do ex. Carro de Heavens nas 2 Horas de Luanda, prova em que desistiu após obter o 8º tempo nos treinos. E seria a última prova do Chevron em Angola, pelo menos que se saiba…